Pedro Silva diz que “as propostas para incrementar a resiliência das cidades há décadas estão bem definidas” mas constata que a “cultura da decisão política” não olha “para além dos ciclos eleitorais imediatos”. Seriam necessários “acordos de regime municipal”, defende o especialista em planeamento
Diário de Aveiro: Nestas semanas mudou radicalmente a forma como nos movimentamos, trabalhamos, consumimos, convivemos... Estas transformações são uma resposta meramente transitória ou poderão perdurar e tornar-se comuns?
Pedro Silva: Será, no mínimo, descuidado dizer que esta crise, como outras, nos apanhou absolutamente desprevenidos. Na verdade, os ciclos de epidemias têm crónicas previamente anunciadas e uma frequência em ciclos temporais cada vez mais curtos. Os fenómenos podem ter uma origem associada à natureza ou à biologia, mas os factores que levam à sua extrema ocorrência, com perdas de vidas humanas e de bens materiais, são crónicas de mortes anunciadas. Porque antes de se constituírem como ocorrências extremas de ordem natural são essencialmente de ordem económica e, assim, de índole política. A natureza da catástrofe é política porque, em tempo de bonança, os eleitos, nacionais e locais, salvo honrosas excepções, negligenciam absolutamente medidas estruturantes.