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“Os restaurantes vão-se distanciar uns dos outros na capacidade de dar protecção e segurança ao consumidor”


Liliana Figueiredo Sexta, 08 de Maio de 2020

Entrevista 

Jorge Loureiro, vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) explicou ao nosso jornal que ainda não é conhecida a decisão final sobre as normas propostas pela AHRESP que vão pautar a reabertura da restauração prevista a 18 deste mês, sendo que 20% dos restaurantes não deverão voltar a abrir


A AHRESP já conhece as normas que a restauração tem de implementar para reabrir ao público?
Ainda não, estamos à espera da resposta ao documento que fizemos circular pelos vários departamentos do Governo (ASAE, Direcção-Geral da Saúde e Autoridade para as Condições do Trabalho). Sabemos que neste momento está numa fase final na Direcção-Geral da Saúde e estamos a aguardar na AHRESP o contributo destas entidades, vinculativas algumas delas, para depois fazer sair o documento que será adoptado pelo Governo conforme ficou combinado com o primeiro-ministro e o ministro da Economia. Entregámos o documento no dia 24 de Abril e até agora ainda não nos foi validada a nossa proposta. A qualquer momento esperamos a resposta e temos estado a pressionar o Governo para que os estabelecimentos tenham uma orientação sobre as condições de reabertura, mas a verdade é que até agora tudo o que é dito é especulação. Não há nenhuma orientação a não ser aquela que foi dita pelo Governo, que os estabelecimentos vão abrir com 50% daquilo que era a sua capacidade inicial.

O facto de ainda não ter saído uma directriz oficial pode atrasar a reabertura de alguns restaurantes?
Esperemos que não. Achamos que amanhã [hoje], no limite, teremos o documento pronto e que no fim-de-semana há condições de o pôr cá fora para depois as empresas o colocarem na prática. Imaginemos que segunda-feira temos o documento, têm exactamente uma semana para se adaptar às condições de reabertura. Também não são coisas muitos significativas, do ponto de vista físico, são só adaptações de espaço e equipamentos de protecção individual, mas obviamente que há ainda uma necessidade de fazer a aquisição destes materiais todos e, por isso, os empresários precisam urgentemente dessa orientação. Têm cinco dias úteis para fazer essa adaptação, não é o ideal, mas é possível. A AHRESP tem estado a pressionar para que realmente isso aconteça.

Quais são as sugestões que a AHRESP faz para que a reabertura seja feita em segurança?
O sector da restauração é um sector muito regulado do ponto de vista de higiene e segurança alimentar e portanto tem aplicação do HACCP. O que nós dizemos é que resolvida a questão do afastamento, que já foi dito pelo primeiro-ministro - que os restaurantes quando reabrirem abrem a 50% - o resto na proposta da AHRESP prende-se com a intensificação daquilo que são já práticas muito usadas, obviamente intensificadas do ponto de vista da limpeza, higienização, com o manuseamento dos próprios equipamentos, a forma de abordagem do cliente, sempre com os tais equipamentos de protecção individual com o objectivo de que não haja contacto nem com os alimentos nem com os equipamentos que têm esses alimentos. Do ponto de vista das brigadas de trabalho na cozinha, obviamente que há questões que têm de ser acauteladas a nível da higienização, de uma forma mais intensificada. Aquilo que a AHRESP propôs não é nada que já não fosse feito. Agora há uma preocupação muito grande do ponto de vista da intensificação, quer da limpeza, quer da higienização. Se fazíamos isso uma a duas vezes ao dia, agora passamos a fazer 4/ 5 vezes. As mesas estavam montadas quando chegávamos, agora é o contrário, só depois de estarmos sentados, é montada toda a mesa para nos ser servido o prato. A forma de escolher os menus já não pode ser através do manuseamento, terá que ser numa plataforma, ou de descarga no nosso telemóvel, ou algo que seja de utilização única ou menus que sejam laváveis e desinfectados a cada momento que sejam usados. Andará à volta disto.

Estas alterações trarão mais encargos para os restaurantes…
Naturalmente que sim, e essa sempre foi uma das condições que a AHRESP pôs em cima da mesa na reunião com o primeiro-ministro. Existiam duas condições que nós pusemos à cabeça. A primeira era que a reabertura era desejada pela restauração e tinha de garantir segurança ao consumidor, daí estas medidas todas que mencionei, e a outra tem a ver com a questão da necessidade de fazer chegar dinheiro às tesourarias para fazer face a este investimento porque nós estamos a falar de uma operação que vai passar a ter um custo muito mais alto dos consumíveis que estão aqui associados. Os custos vão aumentar significativamente. Como não se prevê que haja condições para aumentar preços, ninguém o vai fazer, penso eu, obviamente que isto terá de ter um apoio. É por essa razão que foi anunciada aquela linha de financiamento exactamente para adaptarmos os estabelecimentos a estas novas realidades, que é um apoio a fundo perdido a 80% do investimento até 5 mil euros. É uma medida que a AHRESP pediu. Não é só para a restauração, mas também para o comércio, mas foi uma exigência da AHRESP que o Governo acatou em boa hora porque é de facto uma forma de minimizar os impactos que os restaurantes e hotéis vão começar a ter.

De que forma os restaurantes podem voltar a ganhar a confiança dos consumidores?
Nós também propusemos um selo de segurança para o consumidor. Isto é, o estabelecimento que cumpra o protocolo de operação de boas práticas pode exibir o selo à semelhança do que acontece com o selo do Turismo de Portugal. Nós fizemos uma proposta concreta com a tipologia de selo que deveria ser e isso também está para vir aprovado. Porque é importante que a operação que cada estabelecimento vai passar a ter tenha essa preocupação à cabeça de segurança. Os restaurantes vão se distanciar muito uns dos outros em razão da capacidade que tenham de dar protecção e segurança ao consumidor. Era uma realidade que já existia, mas que agora passou a ganhar outra dimensão.

Considera que, de uma forma geral, o sector da restauração se vai conseguir reerguer ou existirá um impacto negativo que se vai prologar nos próximos tempos?
O impacto vai ser grande. Nós fizemos um inquérito, no princípio do mês de Maio, a nível nacional, e 20% admite não reabrir e 30% admite que possa vir a ter de fechar os seus estabelecimentos passado pouco tempo. De facto, nós estamos preocupados que muita restauração ou não reabra ou reabrindo passado pouco tempo não tenha condições de estar de porta aberta e que possa vir a fechar e, por isso, é que este processo da reabertura tem de acontecer com níveis de segurança muito grandes para ganhar a confiança do consumidor.

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