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Médicos dentistas preparam-se para um futuro desconhecido


Terça, 28 de Abril de 2020

Os médicos dentistas foram uma das profissões obrigadas a parar a actividade no âmbito do Estado de Emergência decretado em Portugal para combater a propagação do coronavírus. Autorizados apenas a prestar um conjunto de serviços considerados urgentes e definidos pela Ordem dos Médicos Dentistas, estes profissionais debatem-se hoje com um cojunto de dificuldades.
Considerada uma profissão de alto risco pela sua proximidade aos pacientes, os médicos dentistas tiveram que se reorganizar e reforçar todos os cuidados que já vinham desenvolvendo no exercício da sua actividade com o grande objectivo de se protegerem para continuarem a trabalhar e de protegerem os pacientes dos riscos de contágio.
Miguel Gonçalves, da Clínica Visages, em Viseu, explicou ao Diário de Viseu que durante este encerramento optaram por fazer um atendimento telefónico dos pacientes e sempre que necessário fazem a própria medicação pelo telefone.
“Quando a situação é urgente, então marca-se a consulta e recebemos o paciente na clínica com um reforço das medidas de protecção que já tínhamos em curso”, explica o jovem médico que sublinha o facto de já contactarem de perto com doentes de outras patologias, como hepatites ou HIV.
Neste caso, Miguel Gonçalves considera que partem com a vantagem de estarem já habituados a trabalhar com rigorosos cuidados de higiene e de esterilização de materiais e espaços.
Mas é aqui que as dificuldades acrescem a todas as outras. A dificuldade em conseguirem adquirir os equipamentos de protecção individual.
“Se no início da pandemia era difícil encontrar no mercado os materiais necessários, agora são os preços praticados que estão super inflaccionados”, afirma, defendendo que devia existir uma fiscalização apertada e uma regulamentação dos preços por parte do Estado.

Materiais de protecção
a preços inaceitáveis
Para realizarem uma urgência, os médicos dentistas da Visages utilizam máscara cirúrgica, máscara FFP2, viseira, óculos de protecção, bata descartável, touca descartável, a farda da clínica, um fato completo com cobertura da cabeça, protectores de cabeça e dois pares de luvas. Equipamentos que a clínica definiu como obrigatórios para médicos e assistentes.
“Se fizermos a conta a todo este material que um médico dentista usa para atender um paciente, concluímos que não compensa. Mas continuamos a fazê-lo pelo compromisso que temos com os nossos pacientes”, sublinha, lamentando que o material seja hoje dez vezes mais do que custava antes do início da pandemia.
Lamentando a falta de apoio, o clínico concorda que a proposta do Governo em baixar o IVA já uma pequena ajuda, dado que estes profissionais não têm qualquer apoio do Estado na aquisição dos materiais de proteccão individual. De referir que a Ordem dos Médicos Dentistas conseguiu disponibilizar algumas máscaras mas em número quase irrisório para as necessidades das clínicas.
“Tivemos que encomendar material de protecção e estamos há semanas à espera que chegue”, reforçou
E já que se fala em apoios ou na falta deles, não se pode esquecer a polémica à volta dos sócios gerentes das empresas que continuam a pagar ordenados e impostos e não têm direito qualquer apoio do Estado.

Um futuro incerto
Mas as dificuldades não se ficam por aqui. Tendo em conta os cuidados com a protecção e os equipamentos utilizados, a realidade das clínicas muda completamente.
“A grande alteração com que nos debatemos prende-se igualmente com a redução do número de consultas diárias por forma a termos tempo para a mudança do material de protecção que não pode ser utilizado no atendimento ao paciente seguinte assim como fazer a desinfecção dos espaços entre consultas e juntarmos o menor número de pessoas na sala de espera”, reforça o jovem médico, considerando que essa preocupação se adapta aos espaços internos da clínica onde se procura também reduzir a concentração dos profissionais”, avança.
Uma das medidas já assumida no imediato e para o futuro é a realização de rastreios, em primeiro lugar pelo telefone e depois pessoalmente, no que se refere à medição da temperatura e à existência de sintomas ou não.

Opção pelo lay-off
Obrigados pelas circunstâncias actuais a optar também pelo lay-off, como a esmagadora maioria das empresas portuguesas, Miguel Gonçalves acredita que no final todos os colaboradores serão integrados, mantendo-se, no entanto, as incertezas quanto aos que estão em casa a acompanhar os filhos, apesar das datas já avançadas pelo Governo para reabertura de escolas e creches.
E é com todas as incertezas existentes no horizonte que a Visages prepara neste momento os moldes em que vão funcionar no futuro, mas sem saberem quanto tempo vai demorar a situação actual ou se haverá outros momentos tão difíceis que venham justificar outros estados de emergência.
“Não sabemos como se comporta o vírus, não sabemos se o pior já passou ou se está para vir. Nesse sentido procuramos treinar as nossas equipas para uma nova abordagem e daí considerarmos fundamentais os protocolos de segurança que estamos a preparar”, conclui Miguel Gonçalves.


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