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Empresários da região “ainda não viram um euro”


Domingo, 19 de Abril de 2020

Manuela Ventura

«O Governo libertou 400 milhões de euros para linhas de crédito e, um mês depois, não há uma empresa na região que tenha recebido um euro». Um cenário negro traçado por Carlos Alves, presidente da Associação Empresarial Serra da Lousã (AESL), que fala em nome de mais três associações, de Miranda do Corvo, Penela e Poiares. «Desses 400 milhões não chegou nada à região», enfatiza o empresário, que considera «inconcebível» que, num momento de «crise sem precedentes» como o que estamos a atravessar, uma empresa esteja «mais de um mês a aguardar a aprovação de um empréstimo, sem ter qualquer tipo de previsão ou garantia de aprovação».
Para Carlos Alves, este deveria ser um «processo simples, ágil e claro», mas não é isso que está a acontecer. Bem pelo contrário. Numa primeira fase, esclarece, foram os bancos que «levantaram problemas», pedindo «papéis e mais papéis», «coisas sem sentido» e que «demoraram bastante tempo». Todavia, ultrapassada essa questão, já com o aval dos bancos, a resposta carece, depois, do “OK” das Sociedades de Garantia Mútua. Agora é essa “demarche” que está “emperrada”. Ou seja, as Sociedades de Garantia Mútua não estão «a dar o aval», a «aprovar» os processos, o que significa que «o dinheiro não é libertado e não chega às empresas».
Carlos Alves admite que estas entidades possam ter «falta de gente» para dar uma resposta ágil ao grande volume de solicitações, mas entende que tal «não pode acontecer», uma vez que os empresários e as empresas ficam de “pés e mãos atados”.
As “nuvens negras” adensam-se com a urgência imperiosa de dinheiro fresco. «Segunda-feira, 20 de Abril, é dia de pagar impostos», designadamente a Segurança Social e as retenções de IRS. E mesmo, ressalva, que o pagamento desses impostos possa ser feito de forma faseada, em terços, «há uma parte - pouco ou muito - que tem necessariamente que ser liquidada agora».
Se amanhã é dia de pagar impostos, logo a seguir, «no dia 30», aponta o empresário, é tempo de «pagar os salários». Isto «além de muitas outras despesas que chegam todos os dias». Uma verdadeira “dor de cabeça”, assume Carlos Alves. «Como é que uma empresa que está há mais de 30 dias sem facturar, consegue fazer estes pagamentos?», questiona, sublinhando o contrassenso do princípio ou seja, mesmo em “lay-off”, a «empresa tem de pagar, adiantar o dinheiro e só depois é que recebe do Estado».
O presidente da AESL afirma que «30 a 40% das empresas da região estão em “lay-off”». «Quase metade das nossas empresas», considera e exemplifica com o seu concelho, a Lousã, onde das cerca de duas centenas de empresas «deverão estar a trabalhar 10 ou 15». E, se este “quadro negro” não mudar rapidamente, perspectiva o pior, com «a economia local a parar».
«O dinheiro não chega na altura em que é mais preciso», considera Carlos Alves, que enaltece o espírito resiliente de alguns empresários que têm procurado reagir e enfrentar a crise de uma forma inovadora, recorrendo, por exemplo, às redes sociais para promover o seu negócio. «Os empresários estão com vontade de se reinventar, muitos já pediram empréstimo, mas começam a desanimar», uma vez que passou «um mês e o dinheiro ainda não chegou».
O dirigente teme, de resto, que este desânimo possa “contagiar”, e levar os empresários a atirar a “toalha ao chão”. Na maioria dos casos, esclarece, não estamos a falar em 100 mil euros, mas em «15/20 mil euros», que eram fundamentais, nesta altura, para dar ânimo aos empresários e garantir o futuro da economia local. «É imperativo que esta situação se solucione com a maior urgência, pois estamos a assistir ao enfraquecimento das empresas, pondo, em alguns casos, em risco a sua continuidade. Se não forem tomadas medidas, as pequenas empresas, nomeadamente o pequeno comércio, vão acabar», avisa. Em contrapartida, «os grandes grupos nunca ganharam tanto».


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