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“Há crianças e famílias a passar fome na Baixa”


Quinta, 16 de Abril de 2020

Manuela Ventura

«A situação é crítica e tende a piorar». O diagnóstico é feito por Helena Palrinhas e Cristina Melo, do Centro Comunitário de Inserção da Cáritas, que funciona na Rua Direita. «Há crianças e famílias com fome na Baixa de Coimbra». Um cenário dramático em termos humanos. Um reflexo, talvez ainda só no começo, do impacto social do novo coronavírus. O estado de emergência e as medidas de confinamento obrigaram as famílias a ficar em casa. Mas também os restaurantes ou estabelecimentos comerciais, onde a maioria trabalhava, fecharam as portas. O ganha-pão mensal sofreu um corte, mas as despesas não diminuíram. «Em Março, muitas famílias ainda receberam o ordenado praticamente completo, mas em Abril, já com muitas situações de “lay-off”, a situação vai agravar-se», perspectiva Cristina Melo, directora técnica do Centro Comunitário.
«É certo que as crianças têm uma refeição escolar, mas não chega. Os pais também estão em casa e, além do almoço, há o pequeno-almoço, o lanche e o jantar», refere Cristina Melo, exemplificando com a situação de um casal com três filhos e um sobrinho, todos fechados em casa.
Helena Palrinhas, psicóloga de formação e responsável pelas campanhas, apontava, ontem de manhã, para um conjunto de «20 famílias», que representam um universo de «51 pessoas», que já bateram à porta do Centro Comunitário a pedir ajuda. Cristina Melo junta-lhe mais «duas famílias». «A maioria são casais novos», refere, sublinhando que se trata de famílias que tinham a sua vida normal, com o seu emprego e que, por isso mes­mo, eram desconhecidas da instituição, que, por princípio, só conhece aqueles que precisam de apoio.
Entre estes “novos pobres”, pessoas que precisam de ajuda, há também «famílias mono-parentais, com uma ou mais crianças». Cristina Melo aponta o caso de uma «mãe com quatro filhos pequenos». «Trabalhava num restaurante e aguentava-se muito bem», acrescenta. Todavia, o estado de emergência mudou tudo. O restaurante onde trabalhava fechou e o ordenado ficou reduzido a 300 euros. «É o valor que paga pela renda da casa!», adianta.
Mas também há pessoas de idade mais avançada, como um casal que tem a sua casa e a reforma, mas a saúde falhou. E não foi o novo coronavírus. Um problema de demência obrigou a esposa a internar o marido, porque ela, doente oncológica, não conseguia cuidar dele. Um lar privado foi a solução, face à não existência de vagas comparticipadas pela Segurança Social. O pagamento deixa este casal «com 53 euros para pagar água, luz, gás e alimentação!
Estes são alguns dos casos que Cristina Melo e Helena Palrinhas apontam, situação que levou o Centro Comunitário de Inserção a empenhar--se em procurar soluções. «Neste momento, as famílias ou pagam contas ou comem!», sintetizam.
O Centro Comunitário de Inserção da Cáritas dá resposta às populações das freguesias de Almedina e São Bartolomeu e parte da Sé Nova e até ao estado de emergência garantia apoio de Acção Social e de Rendimento Social de Inserção (RSI) a cerca de 600 pessoas que, no eclodir dos efeitos da pandemia, foram «encaminhadas para outras instituições», de molde a criar “espaço” para estas «novas necessidades». Ou seja dar apoio a famílias a que a crise bateu à porta.


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