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“Se todos protegerem todos, todos serão protegidos”


Terça, 14 de Abril de 2020

“Nesta pandemia que nos assola e que nos inunda de dúvidas, novos conceitos e informação cientifica diária, muito tem mudado desde o seu início. As posições e as recomendações por parte das entidades de saúde pública, nomeadamente da Direcção Geral da Saúde (DGS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), evoluem e modificam-se em períodos de tempo muito curtos. A própria OMS agora recomenda o uso de máscara além da higiene, lavagem das mãos, etiqueta respiratória e isolamento social”, começa por explicar Andreia Correia, médica do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Tondela-Viseu.
Segundo a profissional de saúde, “as máscaras usadas pelos profissionais de saúde protegem o doente das partículas exaladas pela expiração e pela conversação, ou seja, garantem protecção de dentro para fora”. E o uso generalizado de máscaras na população tem “um objectivo semelhante: proteger os outros”. “E objectivamente, se todos protegerem todos, todos serão protegidos, incluindo aqueles que usam máscara. E claro, todos teriam maior protecção relativamente aos portadores assintomáticos, evitando transmissão comunitária”, sublinha.
De acordo com Andreia Correia, “a protecção de fora para dentro, ou seja, a protecção conferida ao utilizador da máscara das partículas expiradas e das gotículas projectadas por outras pessoas encontra-se na dependência da máscara utilizada, mas o ganho é sempre superior face à sua inexistência”.
“Sabemos que as partículas mais pequenas, aerossóis, são filtradas praticamente na sua totalidade (mais de 99%) pelas máscaras mais sofisticadas (FP2 e FP3). As vulgares máscaras cirúrgicas têm neste caso uma filtração apenas parcial, mas não desprezível, diminuindo pelo menos quatro vezes a passagem de partículas. Para as partículas maiores, as máscaras cirúrgicas acrescentam uma protecção que, continuando a ser parcial, é muito maior. Portanto, as máscaras cirúrgicas, não sendo perfeitas, acrescentam também protecção de fora para dentro. Além disso grande parte dos receptores para este vírus encontram-se localizados preferencialmente nas vias aéreas superiores, nomeadamente na nasofaringe e orofaringe onde se replica francamente. Por sua vez, as partículas mais pequenas, em parte resultantes da expiração, viajam mais facilmente até à via aérea inferior, enquanto as partículas maiores que resultam do espirro, da tosse e também da fala, se depositam sobretudo nas vias aéreas superiores onde existem em maior quantidade os receptores e onde se inicia a replicação viral. Logo, mesmo as máscaras menos sofisticadas, filtrando parte das partículas mais pequenas, e sobretudo filtrando grande parte das maiores, terão grande importância na protecção de fora para dentro. Assim sendo, todos devem usar máscara em locais onde é difícil manter o distanciamento social, além das outras circunstâncias que assim o obrigam, nomeadamente para todos os profissionais de saúde e doentes, e aos que prestam ‘serviços essenciais’ à população”, explica, sublinhando que “a prevenção é essencial para aplanarmos a curva epidemiológica, concentrando os esforços hospitalares no diagnóstico e tratamento dos doentes mais graves e com pior prognóstico”.

Como usar uma máscara
No que diz respeito ao uso da máscara, Andreia Correia explica que requer vários cuidados a ter antes, durante e após a sua colocação para garantir que esta oferece a melhor protecção possível, caso contrário pode tornar-se uma fonte de infecção. Segundo a médica, as máscaras são eficazes apenas quando usadas em conjunto com uma lavagem frequente das mãos. Antes de colocar uma máscara deverá proceder-se à lavagem correcta das mãos com água e sabão, posteriormente dever-se-á colocar a tira de metal existente no topo da máscara sobre o nariz, prendendo os elásticos ao redor dos ouvidos ou atilhos atrás da cabeça, de forma a cobrir o nariz, boca e queixo com a máscara, ajustar ao contorno do nariz e verificar que não existem espaços entre o rosto e a máscara. Durante a utilização não se deve tocar na parte da frente da máscara. A máscara deverá ser substituída assim que estiver húmida e não se deverá reutilizar máscaras descartáveis. A higiene das mãos deve ser efectuada se tocar acidentalmente na parte da frente da máscara durante o uso.
“Para remoção da máscara devemos sempre remover pelos elásticos/atilhos não tocando na parte da frente da máscara, pois pode estar contaminada. Devemos deitar fora em lixo individualizado, fechado e proceder de imediato à lavagem das mãos com água e sabão. É inaceitável ver máscaras deitadas ao chão, colocando toda a população em risco”, sublinha.

Improvisar uma máscara
Questionada sobre formas de improvisar uma máscara, no caso de não ser possível adquirir esse tipo de material, adianta que uma máscara de tecido nunca terá a eficácia de uma máscara PFF2, mas essas devem ser mesmo deixadas para os profissionais de saúde. “Mas, quanto à eficácia desta solução para a população em geral, alguns especialistas consideram que pode trazer mais benefícios do que riscos, podendo contribuir para uma redução da transmissão comunitária”. No entanto, tendo a noção de que é uma medida complementar ao distanciamento social, higiene, etiqueta respiratória e evitar tocar no nariz, boca e olhos, essas sim, primordiais no controlo da transmissão.
“A máscara caseira deve ser considerada como um último recurso para prevenir a transmissão por gotículas de indivíduos infectados. Esses deverão utilizar máscaras mais adequadas. Mas é melhor do que não usar qualquer tipo de protecção”, sublinha Andreia Correia.
“O maior desafio ao fazer uma máscara caseira é escolher um material que é suficientemente denso para capturar as partículas virais, mas respirável o suficiente para que o possamos utilizar. Estas máscaras devem ser regularmente lavadas, numa máquina de lavar comum com detergente, respeitando as regras de segurança ao remover a máscara. Além disso, não devem ser usadas por crianças com menos de dois anos de idade, por pessoas com problemas respiratórios ou por pessoas que não sejam capazes de as retirar sozinhas. São ‘uma medida adicional e voluntária de saúde pública’”, finaliza. |


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