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“As últimas semanas têm sido de muito trabalho e muita preocupação”


Segunda, 30 de Março de 2020

Entrevista 

Na semana passada, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Viseu realizou o seu 134.º aniversário. As comemorações foram canceladas. Devido à pandemia, as preocupações têm sido outras como explicou ao nosso Jornal, o presidente da instituição, Carlos Costa


Diário de Viseu A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Viseu assinalou na semana passada 134 anos de existência, um aniversário que fica marcado pelo cancelamento das comemorações e pelo combate à pandemia causada pela Covid-19. Como é que têm sido as últimas semanas?
Carlos Costa Estamos a ter um aniversário atípico. Fomos forçados a cancelar todos os eventos comemorativos dadas as contingências que Portugal inteiro está a sofrer. Limitámo-nos a assinalar a data, 25 de Março, numa pequena cerimónia restrita aos operacionais do corpo activo realizada no quartel e com as devidas precauções. As últimas semanas têm sido de muito trabalho, muita preocupação de planeamento constante e de uma dedicação extrema dos nossos bombeiros. É nestas horas que se revela o melhor do que o ser humano é capaz.
 
As dificuldades financeiras têm sido um problema e grande parte da receita da associação é feita com o transporte de doentes. Qual é o ponto de situação?
Este sempre foi o ‘Calcanhar de Aquiles’ nas associações humanitárias de bombeiros voluntários. Esta pandemia veio agravar o cenário financeiro em todas as organizações, e nós não somos excepção. Penso que ninguém sairá incólume. Os transportes de doentes não urgentes foram reduzidos em cerca de 90% e isso representa para nós uma perda de receita mensal superior a 30 mil euros. Num exercício de planeamento feito com os dados disponíveis neste momento prevemos perdas de mais de 100 mil euros se a pandemia não se prolongar para lá de Maio, o que ainda não é certo. Temos apelado à Federação e à Liga que tem estado atenta e a solicitar ao Governo medidas de apoio. Também pedimos já ao Município o adiantamento do apoio anual à actividade, alertando para a situação que vivemos e para a necessidade evidente de reforço. A preocupação, por parte dos órgãos sociais, tem sido a procura incessante de apoios para nada falhe aos nossos operacionais e funcionários. Os salários não podem falhar, os equipamentos de protecção individual também não, os combustíveis... etc. Temos a registar o apoio financeiro de algumas instituições e empresas, que agradecemos.
 
Quais têm sido os procedimentos para fazer face à pandemia no quartel?
Foram tomadas medidas cautelares mesmo antes das decretadas pelas autoridades nacionais e locais. Está implementado um plano de contingência, com regras para todos os cenários possíveis prever neste momento. Temos também colaborado com outras entidades nomeadamente com o serviço de desinfecção de veículos. Quanto ao quartel a grande preocupação é manter a operacionalidade do corpo de bombeiros, procurando responder às exigências a que a situação do Covid-19 obriga, sem comprometer o socorro normal às populações. Foram implementadas medidas adicionais de protecção, segurança e higiene a todos os bombeiros em actividade, reforçado o dispositivo e limitadas as entradas e permanências no quartel só a pessoas e entidades com estrita necessidade de o fazer. Com a adopção destes procedimentos tentamos reduzir o risco ao mínimo dos nossos operacionais e ao mesmo tempo garantir a máxima prontidão para todo o tipo de ocorrências de apoio e socorro que os viseense venham a necessitar.

Quais têm sido os procedimentos para fazer face à pandemia no transporte dos doentes?
Como disse o transporte de doentes não urgentes está muito reduzido nesta altura, limitando-se praticamente aos IPO e hemodiálises. Os nossos profissionais dispõem de equipamentos de proteção e de higienização. As ambulâncias são desinfectadas regularmente. Já as nossas equipas de INEM têm procedimentos e equipamentos mais rigorosos pois têm sido chamadas a transportar doentes suspeitos de Covid-19. Aí os cuidados são mais exigentes quer em termos de equipamentos de protecção quer em termos de desinfecção.

A corporação tem tido dificuldades em garantir equipamento de protecção para os bombeiros que estão diariamente no terreno, como acontece, por exemplo, com os profissionais de saúde e de segurança?
Mais uma vez não somos excepção, os stocks são escassos e tem sido difícil aceder aos EPI mesmo pagando preços muito acima do que era tradicional no mercado. Deixo aqui um apelo público a empresas e entidades para que não nos deixem chegar ao ponto de rotura. A segurança de quem presta socorro é fundamental.

Quais são as expectativas a curto e médio prazo no que diz respeito a projectos que a direcção anunciou para este mandato?
Perante um "tsunami" como o que vivemos todos os nossos esforços têm que estar orientados para ajudar a população a ultrapassar este momento de angústia. É esse o novo dever, é isso que se espera de nós. E estamos a conseguir. Um dia após outro, com pequenos passos, com cada vez menos recursos, mas com muita determinação. Não posso terminar sem prestar pública homenagem aos homens e mulheres do nosso corpo de bombeiros, que hoje, mais que nunca estão no terreno a ajudar o próximo com risco da própria vida. É deste tipo de gente que reza a História.

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