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Human Rights Watch denuncia campanha repressiva de Pequim contra minoria muçulmana


Segunda, 10 de Setembro de 2018
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch denunciou hoje "a violação sistemática" dos direitos humanos da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure, através de detenções arbitrárias, tortura ou vigilância permanente, na região de Xinjiang. Num relatório intitulado "Erradicar vírus ideológicos: a campanha repressiva da China contra muçulmanos em Xinjiang", a organização de defesa dos direitos humanos descreve como Pequim converteu o extremo noroeste do país num estado policial, com milhares de uigures a serem arbitrariamente detidos em campos de doutrinação política. "O Governo chinês está a violar os direitos humanos em Xinjiang numa escala inédita no país nas últimas décadas", acusa Sophie Richardson, directora para a China da HRW, no documento. Richardson considera ainda que a "campanha repressiva" da China é um "teste fundamental" à ONU e aos governos estrangeiros. A China tem negado sempre a existência de "centros de reeducação" ou de "detenção arbitrária", e argumenta tratarem-se de "centros de educação vocacional". Os internamentos são justificados pelas autoridades chinesas pela necessidade de ajudar "os que foram enganados pelo extremismo religioso (...) através do reassentamento e educação". As autoridades chinesas insistem que são necessárias medidas duras para punir separatistas e extremistas religiosos na região, que concentra mais de 13 milhões de muçulmanos. Em 2009, a capital do Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional. Desde então, as autoridades lançaram uma campanha repressiva, que foi reforçada a partir de 2016, quando o secretário do Partido Comunista Chinês (PCC), Chen Quanguo, foi transferido para a região, após vários anos no Tibete. De acordo com a HRW, centenas de milhares de uigures foram arbitrariamente detidos em campos de doutrinação política, onde são forçados a criticar o islão e a própria cultura, a aprender mandarim e a jurar lealdade ao PCC. O relatório baseia-se em entrevistas com 58 ex-residentes na região, incluindo antigos detidos e 38 familiares de detidos, e estima que um milhão de uigures continua detido nos campos, onde os que resistem ou falham "na aprendizagem" são punidos. Estes não têm direito a julgamento, nem acesso a advogados e familiares. As detenções podem ocorrer sob acusações como aceder a portais estrangeiros ou contactar familiares além-fronteiras, indica a ONG. Fora dos campos, os uigures em Xinjiang são igualmente submetidos a fortes restrições, que de "muitas formas" tornam as suas "vidas parecidas" com as dos detidos, acrescenta. A HRW descreve como uma combinação de medidas administrativas e postos de controlo restringem os movimentos dos membros da minoria étnica chinesa, que são também forçados a doutrinação política. "Através de níveis sem precedentes de controlo da prática religiosa, as autoridades efectivamente proibiram o islão na região", refere a HRW. A organização descreve como as autoridades encorajam vizinhos a vigiarem-se uns aos outros e, através de sistemas de análise de dados, inteligência artificial ou controlo dos telemóveis, asseguram a monitorização constante da população. Uma outra medida inclui impor às famílias uigures que recebam funcionários públicos em casa. "É evidente que a China não prevê custos políticos significativos com a sua campanha abusiva em Xinjiang, em parte devido à influência que tem no sistema da ONU", nota a HRW. A organização defende que perante a evidência de violações graves em Xinjiang, os governos estrangeiros devem adoptar acções unilaterais e multilaterais.

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