Pedalar por uma vida nova

O ciclismo e os ciclistas deram ontem uma lição. Os “bravos do pelotão”, perante mais um dia de altas temperaturas e pou­co convidativo para andar de bicicleta, cumpriram os 177,8 quilómetros que ligaram Sertã a Oliveira do Hospital. Mas esta foi muito mais do que uma etapa. Não houve nenhu­ma subida à Torre, nem nenhum contra-relógio decisivo para a classificação final. Hou­ve sim uma homenagem bonita e com enorme significado. Os 129 ciclistas, que às 12h45 em ponto partiram da localidade que pertence ao distrito de Castelo Branco, cumpriram um trajecto que passou pelas estradas e pelas povoações que há cerca de um ano foram fustigadas pelos incêndios de Junho e Outubro e que deixaram um rasto de morte como não houve memória. Foram mais de 100 vidas que partiram e que deixaram famílias inteiras à beira do desespero. Sofrimento, esforço e coragem foram palavras com as quais tiveram de conviver diariamente todos aqueles que perderam (quase) tudo nas cha­mas e que mesmo perante a adversidade e as rasteiras que a vida causou lutam para dar a volta por cima. E foi por tudo isso que os “bravos do pelotão” quiseram solidarizar-se atra­ves­­sando caminhos de uma região que não se rende e se quer reerguer. «Todas as etapas são importantes, mas esta destaca-se de todas as outras porque pretendemos simbolicamente prestar o colorido da caravana à região tão dramaticamente atingida pelos incêndios o ano passado. Sabemos que as mais diversas personalidades e entidades munidas de um enorme espírito de sacrifício tudo fizeram para aliviar um pouco a enorme carga a que esta região esteve sujeita, mas julgo que era nossa obrigação - e falando de um evento que é qualquer dia centenário e ocupa um lugar no imaginário de todos os portugueses - que a Volta à Portugal também se devia juntar a esta linha solidária», explicou Joaquim Gomes ao Diário de Coimbra, momentos antes dos ciclistas se fazerem à estrada.