
Os Rufo: a vida e o coração dedicados ao artesanato de geração em geração
A freguesia de Pardilhó guarda, entre as suas ruas e tradições, um património rico em artesanato, preservado por gerações. Entre os seus ilustres artesãos, Manuel e Rosa Rufo destacam-se pelo trabalho minucioso e a dedicação à arte da miniatura naval, tecelagem e brinquedos artesanais em madeira. Em entrevista ao Diário de Aveiro, partilham connosco as suas histórias, desafios e o futuro do artesanato.
Manuel Rufo, o mestre dos barcos de madeira
No início da entrevista, o mestre artesão comenta como nasceu esta paixão, um reflexo que “vinha no sangue”. «Desde que me conheço como gente, sempre fiz trabalhos à mão. Isto já era de família. O meu pai, o meu avô, o meu bisavô, todos tinham habilidade para os trabalhos manuais. Mas, no início, não dava para sobreviver só com o artesanato, então trabalhei em várias áreas, como construção civil e na indústria, em São Jacinto. Nos tempos livres, fazia os meus “barquinhos”».
O reconhecimento veio quando foi contactado pela diretora do Museu de Ílhavo para produzir miniaturas de barcos à escala. «Foi um desafio, porque eu fazia os barcos à vista. Tive que pedir ajuda ao meu filho para tirar medidas e aprender a trabalhar com escalas. Mas deu resultado, e, a partir daí, os meus barcos começaram a ser procurados», recorda.
Com o tempo, um acidente afastou Manuel das outras atividades, levando-o a dedicar-se integralmente ao artesanato. Foi nesse período que a esposa, Rosa, também começou a trabalhar por conta própria com a tecelagem. A grande viragem aconteceu quando receberam uma encomenda da Câmara de Estarreja: «Fiz barcos e a Rosa fez sacos de tecelagem. Aquilo foi o pontapé de saída, nunca mais parámos». Mais tarde, a paixão pela madeira evoluiu para a criação de carrinhos artesanais. «O meu filho desenhou um modelo e desafiou-me a fazer. Gostei tanto que não parei mais. Passamos horas nisto, mas é uma paixão».
Os desafios do artesanato tradicional
Apesar da tradição e qualidade do trabalho, Manuel reconhece que o artesanato enfrenta dificuldades. «Hoje, a rapaziada nova quer coisas mais rentáveis. O nosso tipo de trabalho não dá dinheiro, porque exige muito tempo. Se formos a contabilizar, às vezes nem cobrimos as horas gastas. Mas é o que gostamos de fazer».
Outro problema são as feiras de artesanato. «Os organizadores acham que basta meter a feira num canto e esperar que as pessoas apareçam. Não funciona assim. O artesanato precisa de visibilidade, de estar onde as pessoas passam naturalmente. Quando fizeram a feira no centro de Aveiro, era um sucesso. Quando a mudaram, morreu».
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