Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
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“Entrei um homem de seis anos e saí um menino de 18”


Terça, 02 de Fevereiro de 2021

Entrou para o Colégio Dr. Alber­to Souto, em Aveiro, tinha apenas seis anos. Foi com “revolta e tristeza” que, em Novembro de 1988, cruzou os portões do edifício, na freguesia de Aradas, mas com o tempo fez do centro educativo uma casa onde criou “laços de amizade e partilha”. Permaneceu na instituição durante 12 longos anos, até aos seus 18. E garante que é hoje um homem sem cicatrizes – a ex­periência não lhe deixou mar­cas negativas.
Numa altura em que a Câmara de Aveiro luta junto do Go­verno pela cedência do anti­go Colégio Dr. Alberto Souto, ten­do planos para instalar no e­difício o Arquivo Municipal e um pólo cultural (ver caixa), o Diá­rio de Aveiro falou com Vítor Aguiar, uma das muitas crianças e jovens que passaram pela instituição então pertencente ao Instituto da Reinserção Social e que fechou as suas portas em 2015.
Vítor Aguiar, hoje com 38 anos, é natural de Alvarenga, em Arouca, no interior Norte do distrito de Aveiro. “A convivência entre mim e um adulto, no caso o meu padrasto, não era a melhor. Então as entidades competentes decidiram que seria melhor eu vir para o colégio”, explica. “Entrei um homem de seis anos e saí um menino de 18”, diz. E explica: “Parece um paradoxo, mas de facto entrei como um homem e durante a minha estadia aprendi de novo a ser menino”.
A vinda para Aveiro foi difícil. “Tinha seis anos e com essa idade não é fácil partir de casa sozinho, da família, e rumar a um local novo, estranho”, conta ao Diário de Aveiro. Ao despedir-se da mãe, abraçou-a e disse-lhe: “Quando eu souber escrever, escrevo-lhe uma car­ta” – na altura tinha apenas dois meses de escola.
Os primeiros tempos no colégio foram “difíceis”. Talvez por isso conserve memórias que de outra maneira se teriam perdido. “Ainda hoje sei qual foi a minha primeira refeição: jardineira de carne”. “Tudo era novo e estava ali sozinho, embora rodeado de gente. Não tinha a mãe por perto, para me abraçar e dar um carinho e isso faz fal­ta”, relata sobre os primeiros pas­sos em Aradas, a 80 quilómetros de casa.

“Ninguém nasce
problemático”
Passados os primeiros tem­pos, a experiência no colégio foi-se tornando menos penosa. “Os tempos de permanência foram melhorando dia após dia. Fui-me habituando a crescer assim, com aprendizagens novas, criando laços de amizade e partilha. Aprendi a colocar o nós à frente do eu, a dividir e partilhar por todos, desde o simples brinquedo às alegrias e tristezas do dia-a-dia”, conta.

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