José Maria Sousa até tem uma casa onde vive, mas não tem água e, consequentemente, também falta saneamento. Terá aquecimento desde que arranje lenha. Mora onde falta higiene, porque a água que consegue é da bica dos tanques de lavar roupa, que é imprópria para consumo. E falta-lhe também capacidade de organização da rotina diária, o que será o problema de resposta mais difícil.
Não é bom o resultado de uma vida com estas condições nesta casa onde este homem, de 58 anos, vive sozinho, em Sarrazola, na freguesia de Cacia. Sem um trabalho fixo, saltando de um biscate para outro, quando consegue arranjar, e dependendo da ajuda dos que moram próximo, “viver sozinho é complicado”, diz.
E havia também um problema de identidade, mas foi resolvido por vizinhos que conseguiram que lhe fosse atribuído o Cartão de Cidadão, em Setembro passado. E também faltava um mínimo de dinheiro, um processo para conseguir o Rendimento Social de Inserção (RSI) que a vizinhança também tratou. Os vizinhos também passaram a fornecer-lhe máscaras, quando a pandemia chegou, embora não faça um uso frequente daquela protecção contra o contágio da COVID-19
Por vezes, há um biscate, ou um convite para almoçar, por exemplo, feito por um vizinho que apareceu à sua porta, perto do meio-dia, no dia em que o Diário de Aveiro visitou José Maria Sousa. Aceitou o convite e o almoço daquele dia ficou garantido. Para o jantar, desse dia, disse-nos que tinha uma chouriça guardada.
Vida por resolver
Numa visita à sua casa e após uma conversa nota-se que há uma vida por resolver e deseja-se não chegarmos a este ponto. Nem perto. Mas há uma linha limite da sanidade que José Maria Sousa já ultrapassou e, a partir daqui, o que haverá a fazer é uma actuação concertada. Mas, para já, o que tem havido é uma ajuda voluntária dos vizinhos com quem ele se cruza diariamente.
Foram os mesmos que o viram a vasculhar os contentores de lixo da rua até serem deslocados para evitar que continuasse a mexer nos resíduos domésticos.