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Quase nada mudou para os utentes da APPACDM


Eduarda Macário Quinta, 30 de Abril de 2020

Viseu 

Os 62 jovens e adultos que ficaram não compreendem o que se passa à sua volta, mas a instituição continua apostada em manter as rotinas e as actividades habituais para que continuem a sentir-se bem


A maioria não entende porque não podem ir a casa ver a família ou receber visitas. Não percebem porque que é que os amigos e colegas foram para casa e ainda não voltaram. Outros, os que já estavam integrados na comunidade não entendem porque é que não podem continuar a ir. Pensam que estão de castigo e acreditam que os profissionais que os acompanham e que agora se apresentam com máscaras estão todos doentes e por isso, todos os dias lhes desejam as melhoras.
Esta é a realidade actual dos utentes que se encontram na APPACDM de Viseu. São 62 os utentes acompanhados por 67 colaboradores, distribuídos pelas instalações da instituição em Repeses e Jugueiros, na cidade de Viseu, e Vila Pouca, em Santa Comba Dão.
“Temos neste momento a funcionar o lar residencial e a residência autónoma. Na área da formação profissional os jovens foram todos para casa, assim como os utentes do Centro de Actividades Ocupacionais”, afirmou Emília Dias ao Diário de Viseu, explicando que, no que respeita ao lar residencial se mantêm os jovens que não têm guarda familiar e outros que têm famílias bastante envelhecidas e sem capacidade para levar os jovens para casa.

62 utentes na instituição
“Contactámos todas as famílias no sentido de percebermos se havia essa disponibilidade conscientes de que quem conseguisse levar os filhos para casa teria de ficar com eles até a situação estar estável, mas apenas duas famílias conseguiram levar os jovens”, adiantou a directora da APPACDM de Viseu, acrescentando que neste momento estão a ser acompanhados 62 jovens nas três respostas sociais da instituição em Viseu e Santa Comba Dão.
Mantêm-se ao serviço 67 colaboradores distribuídos por várias equipas que vão rondando semanalmente nos três estabelecimentos, com técnicos e terapeutas que acompanham os jovens nas suas actividades habituais.
Procurando manter os jovens dentro da normalidade a que estavam habituados, a instituições debate-se, no entanto, com algumas dificuldades. Desde logo a diminuição das receitas e também a dificuldade em encontrar equipamentos de protecção, nomeadamente as máscaras.
“E se por um lado já são difíceis de encontrar, as que se encontram disponíveis no mercado são a preços incomportáveis”, lamenta Emília Dias, adiantando que a situação não é fácil pois não recebem qualquer apoio para a aquisição destes materiais. A esta dificuldade acresce o facto da instituição estar sem receber as mensalidades dos jovens que se encontram em casa e que rondam os 20 mil euros.
Há ainda a apontar o facto dos carregamentos com materiais de protecção demorarem muito tempo a chegar à instituição.

A normalidade possível
Considerando-se uma pessoa “optimista e de fé” Emília Dias confessa-se satisfeita com os resultados obtidos dentro da instituição e com o trabalho de equipa que se continua a desenvolver para que estes jovens não sintam que a vida mudou.
“Os nossos utentes são muito vulneráveis, muitos deles já com mais de 57 anos constituindo grupos de risco o que obriga a cuidados redobrados dos nossos colaboradores pois todos temos consciência de que se aparece alguém com um problema as consequências podem ser dramáticas”, reforçou a responsável.
Quanto aos jovens, a directora da APPACDM de Viseu explica que a grande maioria não entende o que se está a passar. “Têm saudades da família e não compreendem porque é que não os vêm visitar e por isso usamos a video-chamada para os pôr em contacto Alguns familiares querem ver os filhos e como não podem entrar vêem-nos de longe, vêem que estão bem e já matam saudades”, afirmou, reconhecendo que “dói o coração quando perguntam porque é que não podem ver a família e os amigos”.
O grupo de utentes já se encontra fechado na instituição desde o dia 13 de Março e como sublinha Emília Dias, “graças a Deus ainda não aconteceu nada”.
E porque se impõe a manutenção de uma certa normalidade, os jovens continuam a fazer as suas actividades, embora confinados a determinados espaços. Quando o tempo está bom, eles saem para a quinta, fazem actividades no campo de futebol acompanhados pelo técnico de desporto.
“Mas as coisas estão a correr bem. Eles andam bem dispostos, muito activos nas actividades que lhes são propostas, seja de culinária, de desporto ou de música”, afirma Emília Dias, sublinhando que também as equipas estão empenhadas para que tudo se mantenha dentro da normalidade habitual, trabalhando num mesmo sentido.

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