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Misericórdias criticam inércia do Estado no combate à pandemia


Quarta, 01 de Abril de 2020

«O Estado só está a reagir, quando o grande objectivo seria prevenir». Palavras de António Sérgio, secretário regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas, que se confessa preocupado e agastado com a estratégia – ou a falta dela – da tutela relativamente ao combate ao novo coronavírus, que ontem, de acordo com o relatório da Direcção Geral de Saúde (DGS), somou mais duas dezenas de vítimas mortais e mais de mil infectados, elevando para 7.443 o número de casos positivos.

Uma atitude reactiva, de quase inércia por parte do Estado, que «não responde» e que contrasta, no entender do também provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, com o «empenho, esforço, sacrifício» dos funcionários e colaboradores das misericórdias, que, em muitos casos, sublinha, «deixaram as suas famílias, as suas casas, as suas vidas, lá fora, e estão 24 sobre 24 horas nas instituições».Uma medida para «minorar as possibilidades de contágio», sublinha António Sérgio, que está já em vigor nos lares e unidade de cuidados continuados da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, mas também na Lousã e hoje mesmo começa a funcionar na Santa Casa de Arganil, entre outras.

Um “cerrar fileiras” por parte das Misericórdias que «não têm resposta por parte do Estado e dos organismos da Saúde», afirma, desalentado, sublinhan­do a necessidade de fazer testes de despistagem do coronavírus, que «não chegam», pelo menos às instituições do distrito. «Não percebemos os critérios de seriação», diz o responsável das Misericórdias de Coimbra, que - apesar de até ao momento não se registar nenhum caso positivo nos lares e nas unidades de cuidados continuados das 22 Misericórdias - não percebe porque é que o distrito de Coimbra «não está na primeira linha» para a realização de testes e te­me, de resto, que fique «no fim».

«Quando o mal acontecer, ou seja, quando começar a haver casos positivos, já vamos reagir e será o salve-se quem puder». «Como é que explico às pessoas, que se estão a sacrificar, esta falta de respostas», questiona António Sérgio, também ele isolado, juntamente com a equipa de 45 colaboradores que está, há uma semana, a garantir que as portas do lar e da unidade de cuidados continuados de Pampilhosa da Serra se mantêm vedadas ao coronavírus.

“Vedadas” quanto possível. E, mais uma vez, António Sérgio critica a falta de resposta para os cerca de 30 utentes que, em todo o distrito, têm de sair regulamente da instituição para fazerem hemodiálise. «Já pedimos à Saúde uma solução para internar estas pessoas, tendo em conta o elevado risco de contágio», mas a resposta ainda não existe. Mais uma vez, «o parceiro Estado não responde» e, sobretudo, «não corresponde ao esforço extraordinário» que as 22 Misericórdias do distrito estão a fazer relativamente às respostas sociais de internamento.


Não há equipamento de protecção disponível

Máscaras, luvas, viseiras e fatos de protecção individual começam, também, a ser um drama. É um equipamento fundamental, quer para o serviço prestado nos lares e nas unidades de cuidados continuados (internamento), quer ainda no apoio domiciliário, alargado desde o encerramento dos centros de dia, que envolve actualmente, no universo das 22 instituições do distrito, cerca de quatro mil utentes.
«Os stocks que tínhamos já estão praticamente esgotados e são equipamentos imprescindíveis», faz notar António Sérgio, particularmente quando houver casos positivos de Covid-19. «Não há no mercado e quando há, os preços são exorbitantes», afirma, exemplificando que algum desse equipamento, habitualmente adquirido por 1,20 euros, custa, agora, «30, 35 euros». «Estamos a entrar em ruptura, física e emocional», desabafa, lamentando a falta de resposta, pronta e atempada, de quem de direito, o mesmo será dizer, «o conforto que o Estado nos deveria garantir».


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