Os ministros dos Negócios Estrangeiros aliados debatem hoje em Washington, no 70.º aniversário da NATO, os principais desafios que a organização enfrenta: a compra de um sistema antimísseis russo pela Turquia, as ameaças da Rússia e o terrorismo. Na capital dos Estados Unidos, onde a 04 de Abril de 1949 foi assinado pelos 12 Estados fundadores, um dos quais Portugal, o Tratado do Atlântico-Norte que criou a aliança militar intergovernamental, os chefes da diplomacia aliados serão hoje recebidos no Departamento de Estado pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pence, para uma reunião na qual pretendem tomar decisões sobre os desafios com que a Aliança Atlântica se confronta.
Uma das questões em análise no encontro será a desencadeada pela Turquia ao ter assinado um acordo com a Rússia para comprar o sistema de defesa antimísseis russo S-400, cuja entrega se iniciará no verão, e ter depois anunciado que não vai desistir dessa compra apesar das pressões dos Estados Unidos, que suspenderam a entrega a Ancara de equipamento para os caças F-35 que o Governo também pretende adquirir.
A decisão turca ensombra há meses as relações entre Ancara e Washington, aliados na NATO, desconfiando os EUA de que o sistema russo poderá ter capacidade para descortinar os segredos tecnológicos dos ultra-sofisticados aviões militares norte-americanos que a Turquia quer igualmente comprar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, defendeu na quarta-feira em Washington, numa reunião à margem do encontro da NATO, que a Administração Trump não pode recuar na entrega dos caças, “porque a Turquia já pagou 1,2 mil milhões de dólares (1,07 mil milhões de euros) e mais 2,3 mil milhões estão em vias de pagamento” e sugeriu que esta crie “um grupo de trabalho técnico para se assegurar de que o sistema S-400 não é uma ameaça nem para os F-35, nem para os sistemas da NATO”.
Segundo o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, a reunião, a que presidirá, começará por uma análise da relação com a Rússia que, com o seu “comportamento agressivo” com países vizinhos como a Geórgia e a Ucrânia e o incumprimento do tratado para a eliminação de armas nucleares de médio e curto alcance (INF, na sigla em inglês), “preocupa” a organização.
O responsável indicou que serão tomadas “medidas para melhorar o conhecimento da situação na região do mar Negro, com mais apoio à Geórgia e à Ucrânia”, depois de a Rússia ter apresado em Novembro três embarcações ucranianas e as respectivas tripulações no estreito de Kerch, em águas da península da Crimeia, anexada por Moscovo em 2014.
O apoio adicional à Geórgia e à Ucrânia será feito com a formação de forças marítimas e da guarda costeira, visitas a portos, manobras militares e partilha de mais informação, referiu.
Sobre o tratado INF, que expira a 02 de agosto próximo, com a saída anunciada dos Estados Unidos devido ao incumprimento de Moscovo, Jens Stoltenberg disse que os ministros aliados voltarão a insistir com a Rússia para que volte a respeitá-lo.
A NATO está a avaliar que medidas tomará se o tratado não sobreviver, e embora o secretário-geral tenha deixado claro que os aliados não vão imitar as acções da Rússia, defendeu que “se continue a manter uma dissuasão e defesa credíveis e eficazes”.
A presença militar russa na Venezuela será outro dos temas a abordar na reunião dos 29 ministros dos Negócios Estrangeiros.
Quanto à ameaça terrorista, os chefes da diplomacia aliados vão debruçar-se sobre os esforços dos Estados Unidos para alcançar um acordo político no Afeganistão, onde as forças da NATO estão presentes desde 2003.
Embora o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico “já não controle qualquer território”, Stoltenberg alertou para a importância de se continuar a apoiar as estruturas da Defesa do Iraque e formar forças locais, uma coisa que a NATO tem feito na região, não só ali, mas também na vizinha Jordânia e na Tunísia.
Os MNE terminarão a reunião discutindo uma divisão mais equilibrada dos encargos de funcionamento da Aliança Atlântica, uma questão com que o Presidente norte-americano, Donald Trump, tem pressionado os europeus desde que chegou à Casa Branca. Segundo o secretário-geral da NATO, após anos de cortes, os aliados estão agora “a acrescentar milhões” aos seus orçamentos da Defesa, que aumentaram pelo quarto ano consecutivo.
O responsável reconheceu que “existem divergências” entre os aliados em temas como as alterações climáticas ou o comércio, mas acrescentou: “Não é a primeira vez que as vemos, são parte da nossa história desde há décadas. A força da NATO é que, apesar dessas divergências, a nossa missão central é a de nos protegermos uns aos outros”.