O que têm em comum um funcionário da Infraestruturas de Portugal de Arouca, uma professora de Carregal do Sal e uma contabilista de Memória, em Leiria? São, cada um na sua confraria, defensores dos produtos e tradições das suas terras, que, nos casos mais graves, correm o risco de desaparecer.
A confeção das Sopas do Verde, feitas a partir das vísceras e do sangue do carneiro, é um costume «que se estava a perder», nota Cristina Oleiro, uma contabilista, de 52 anos, que há um ano ajudou a fundar a Confraria do Carneiro e das Sopas do Verde, no concelho de Leiria.
A confreira diz o mesmo que ouvimos dos membros de outras confrarias portuguesas: o objetivo é «não deixar morrer as tradições». «Estamos a tornar-nos uniformes e iguais em tudo», avisa Alfredo Rosa, que também participou, na manhã de ontem, no 11.º Capítulo da Confraria dos Sabores da Abóbora, de Vagos. «As tradições vão-se perdendo e as confrarias desempenham um papel muito importante», sustenta este homem, de 62 anos, pertencente à Confraria Gastronómica da Raça Arouquesa. A raça arouquesa é um exemplo de um produto endógeno que já conheceu melhores dias e que deve merecer uma atenção cuidada, diz, trajado com um burel de linho, outro património local que a confraria ajuda a proteger.
Fernanda Henriques, de 72 anos, professora, aderiu à Confraria Gastronómica e Enófila de Terras de Carregal do Sal há sete anos para «defender os costumes e a identidade» locais. «Temos bom queijo, bom azeite, bom mel, bom vinho», resume. «Identifico-me com o espírito confrádico», diz, não apenas pelos convívios que proporciona, mas também pela proteção e divulgação dos produtos da sua terra.
