
Junta diz que traçado do TGV em Espinho foi alterado sem aviso e ameaça novas casas
A Junta da União de Freguesias de Anta e Guetim disse hoje que o traçado ferroviário da Linha de Alta Velocidade (TGV) em Espinho foi alterado sem aviso, estando agora sinalizadas para demolição casas antes indicadas como seguras.
Segundo o presidente dessa junta do distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, a situação surpreendeu algumas famílias locais, que esta semana foram abordadas por uma empresa afeta ao projeto e ouviram dos seus profissionais “que as suas casas serão demolidas”.
Mas Nuno Almeida afirma: “Em sessões públicas e reuniões de trabalho anteriores entre a Junta de Freguesia e a Infraestruturas de Portugal [IP], essas mesmas casas estavam protegidas. Como se explica isto agora? Como se justifica que um cidadão descubra, pelo acaso de uma conversa, que pode perder a sua casa?”.
Criticando a falta de respeito pelos direitos da população e acusando a IP de “continuar sem prestar qualquer esclarecimento formal”, o autarca socialista garante que “o traçado que está a ser alvo de levantamento cadastral e topográfico nunca foi discutido com as autarquias ou com os cidadãos”.
Adianta que as equipas no terreno foram “contratadas pelo consórcio que concorreu para a construção do troço Porto/Oiã”, mas estão a avançar “sem que o traçado tenha sido oficialmente aprovado ou apresentado às populações”.
“A IP nunca informou oficialmente a junta de freguesia ou a Câmara Municipal de Espinho sobre qualquer alteração ao traçado. E o que está a ser imposto nem sequer corresponde às opções apresentadas na consulta pública. Na única solução que teve aprovação ambiental – a Variante “Vila Nova de Gaia” – este percurso simplesmente não existe”, assegura Nuno Almeida à Lusa.
Insistindo que “esta mudança surge do nada”, o autarca atribui as alterações à mudança de Governo e declara: “É impossível ignorar que este desvio no percurso original acontece precisamente com a mudança de titular no Ministério das Infraestruturas, já que o que até agora era um plano definido e submetido a avaliação pública foi, de um momento para o outro, substituído por algo diferente, imposto e desconhecido”.
Para Nuno Almeida, o território de Anta e Guetim não pode ser prejudicado “para favorecer outro ponto do país, seja mais a norte ou mais a sul na própria freguesia”, e é “legítimo questionar se se está perante uma escolha puramente técnica ou se há novos critérios que não foram devidamente esclarecidos”.
Defendendo, contudo, que “não há desculpas para a falta de transparência” do processo, o presidente da junta faz agora duas exigências: “a suspensão imediata dos levantamentos no terreno até que haja um traçado formalmente aprovado e validado” e “garantias públicas de que as habitações, equipamentos e bens pessoais que antes estavam protegidos continuarão a ser salvaguardados”.
A interpretação de Nuno Almeida sobre todo o caso é que “o que está a ser feito a Espinho não é um erro inocente nem um descuido”, pelo que “o Governo tem que se pronunciar e a IP tem que se justificar”.
A Lusa já pediu um esclarecimento à IP, mas ainda não obteve resposta.