
Vila de Avanca «tem sido esquecida»
Diário de Aveiro: Acabou de fazer 75 anos. Foi militar da Guarda Nacional Republicana (GNR) quase 30, tendo, inclusive, comandado o Posto Territorial de Avanca. Quando é que a política surgiu na sua vida?
José Borges: Acho que somos todos políticos. Costumo dizer que há atos que cometemos diariamente que são atos políticos. Depois de sair da GNR, estava para aí há 15 dias em casa, a desfrutar do tempo livre, e apareceram uns indivíduos a convidarem-me para uma lista para a junta de freguesia (JF). Perguntei-lhes se estavam “doidos”, uma vez que tinha acabado de sair da Guarda. Responderam-me que não, que como era um homem mexido e dinâmico, o convite fazia todo o sentido. Na altura, disse-lhes que ia comprar quatro ovelhas e que ia ser pastor [risos]. Entretanto, fui meditando sobre aquilo. Comecei a pensar que, se tinham vindo convidar-me, é porque era uma mais-valia. Ainda por cima estava a ser convidado por um partido [PS] que não tinha aqui predominância. Quem ganhava sempre era o PSD/CDS-PP. E isso também me encheu de orgulho, porque se fosse para perder não me chamavam. Percebe este meu raciocínio?
Acabei por aceitar, com a condição de ir num dos últimos lugares da lista. Fomos a eleições em 2002 e ganhámos por uns quatro votos. Tinha e tenho a vantagem de conhecer muito bem Avanca. É que, mesmo não sendo de cá [nasceu em Ovar], sinto-me como se fosse. Imagine que conheço as 150 ruas [da vila] pelos nomes. Estreei-
-me nestas lides como tesoureiro, cargo que desempenhei durante oito anos, sem qualquer formação específica. A formação que tenho foi a que fui aprendendo ao longo da vida, e que é a mais importante: seriedade e, honestidade. Entretanto, ainda fui secretário, quatro anos, antes de ser eleito presidente de JF. Em 2013 candidatei-me como cabeça de lista e ganhei. Na altura, não era filiado. Filiei-me no partido só no ano passado.
Que balanço faz destes três mandatos?
Positivo, na minha perspetiva, É óbvio que, na de algumas pessoas da comunidade, poderia ter sido feito mais certamente.
O território de Avanca é grande e tem várias carências e necessidades. Vivemos numa terra muito carenciada. Senão vejamos: apesar de estarmos no meio de Estarreja, que é cidade, de Ovar, que é cidade, e de Oliveira de Azeméis, que também é cidade, quando assumi o cargo tínhamos cerca de 40 ruas sem betuminoso, sem o banal alcatrão. E isso foi uma coisa que “mexeu” muito comigo, porque defendo que onde há uma casa/habitação deve haver um bom acesso. Como era possível em 150 ruas haver cerca de 40 por alcatroar? Entretanto, esta situação tem sido atenuada.
Quer dizer, então, que uma das lutas tem sido a beneficiação da rede viária?
Sim. Com o apoio da Câmara Municipal (CM) de Estarreja, este antigo problema está praticamente resolvido.
Qual é a taxa de cobertura das redes de água e de saneamento?
Neste momento, estamos com obras de saneamento em Água Levada e aqui. Diria que a taxa de cobertura rondará os 90 por cento. Aqui, no centro, temos tudo, mas tal não acontece no resto da freguesia. Depois de tudo concluído, ficaremos com uma cobertura de 95 por cento.
Falamos de obras iniciadas há cerca de 20 anos. Já nessa altura se dizia que havia uma taxa de cobertura de 80 por cento, o que não era verdade. A minha doutrina não é uma doutrina política, mas sim pela comunidade. Estamos aqui para fazer o melhor pela comunidade. Foi para isso que nos elegeram.
Como tem sido a relação com a CM?
Relaciono-me bem com todos. Mas tenho dito, e ainda hoje [25 de fevereiro] direi na assembleia municipal, que Avanca tem sido esquecida, preterida. A 14 de março de 1973 foi elevada a vila. Vai fazer agora 52 anos que foi elevada. Porquê? Por causa do progresso e do desenvolvimento que tinha na altura. Tínhamos imensa indústria na nossa terra. Atualmente, temos a Nestlé [empresa de alimentação e bebidas] e a Adico [empresa de mobiliário metálico], ambas com 100 anos. Também temos a Joviflex, fábrica de colchões, iniciada em 73. De há uns anos a esta parte, a freguesia perdeu cerca de 20 PME [Pequenas e Médias Empresas], umas porque deixaram de laborar e outras porque “lhes foi imposta” a saída, sendo que nenhuma ficou no concelho de Estarreja. Porque nestes 52 anos não houve vontade política de criar em Avanca uma bolsa industrial. Por exemplo, em Oliveira de Azeméis (OAz) há bolsas industriais em todas as freguesias e não é por isso que OAz não desenvolveu nem cresceu. Nós, aqui, fomos preteridos porque, mesmo havendo espaço para tal, não foi pensada a tal bolsa industrial. As empresas deslocaram-se para a Murtosa, OAz, etc.. Em Avanca, temos empreendedores, mas a ausência de um polo industrial fez e continua a fazer com que estes rumem a concelhos vizinhos.
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