Há linhas que jamais podem ser ultrapassadas, e o que se passou no Parlamento foi demasiado mau para não ter consequências imediatas. Não se tratou de uma qualquer divergên­cia ideológica ou de um debate político aceso, tratou-se de uma tentativa reprovável de desvalorização da intervenção de uma deputada sobre um tema de importância superior como é a deficiência, usando como argumento o facto de estar a falar em causa própria.
Ainda bem que temos a Ana Sofia Antunes como deputada e é pena não haver mais parlamentares em circunstância semelhante. Sim, porque é muito bonito falar-se na inclusão, mas, na prática, não se vê rigorosamente nada! As escolhas recaem mais depressa por pessoas portadoras do síndrome da corrupção ou por político-dependentes do que por pessoas portadoras de deficiência.
Ainda pior do que a tentativa infeliz de descredibilizar uma intervenção pertinente sobre um tema tão importante, foi o que alegadamente foi dito na bancada parlamentar do Chega. Insultar uma deputada cega com expressões como «aberração» foi o pior que poderia ter sucedido, depois de um momento, já por si, muito triste.
O Presidente da Assembleia da República esteve mal, ao não tomar uma posição firme de condenação deste lamentável momento. Não pode ser permitido tudo, nem se deve tolerar tudo. Há linhas que nunca podem ser ultrapassadas e esta é uma delas…
O país também não deve tolerar o que se passou, que representa muito mais do que um debate acesso entre parlamentares ou um excesso verbal no calor do momento, representa uma enorme falta de respeito por todas as pessoas com deficiência e por todos aqueles que defendem uma sociedade inclusiva que respeite todos, independentemente das suas diferenças.
Se temos razões para nos envergonharmos da incompreensível ausência de políticas pensadas para as pessoas portadoras de deficiência e pelo facto de ainda não sermos um país verdadeiramente inclusivo, agora temos mesmo que sentir muita vergonha pelo episódio deplorável que colocou em causa os princípios e valores que nos devem reger enquanto sociedade.
Isto não pode ficar assim, urge uma tomada de posição dura do Presidente da Assembleia da República, já para não falar no indispensável pedido de desculpas ao país por parte do presidente do Chega, bem como a exclusão imediata do seu Grupo Parlamentar dos protagonistas deste momento degradante.
Não podemos calar, devemos manifestar veemente a nossa indignação e intolerância com quem não respeita a deficiência e a inclusão, eu sou pelas Anas Sofias Antunes!