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O Tigre Celta – A qualidade da previsão

Fevereiro 17, 2025 . 15:00
Chegou-me às mãos, recentemente, um estudo publicado em 2009 na Revista de Economia Política que explica as razões do sucesso da economia irlandesa, sucesso que continuou depois daquela data e até aos nossos dias.

Sucesso que previ muito antes daquele estudo, há mais de um quarto de século, em duas moções apresentadas ao XXI Congresso do PS em 2001 e repetido no XIII Congresso. Escrevemos então: «a competitividade das empresas e da economia portuguesa em geral, necessária para melhorar a vida dos portugueses, depende de uma relação de troca mais favorável com o exterior, só possível através de um setor produtivo moderno e tecnologicamente avançado, capaz de criar produtos inovadores valorizados nos mercados internacionais. Esta convicção é confirmada pela experiência da Irlanda, país que partiu de uma base de desenvolvimento tão pobre quanto a portuguesa e com quem temos diversas afinidades culturais e religiosas, mas cuja economia cresceu no período de 1994-1998 à média de 7,2 por cento ao ano, contra 2,9 por cento em Portugal, criando mais emprego, com menos “stock” de capital e, principalmente, com maior produtividade do trabalho».

Nesse texto acrescentámos, eu e o arquitecto Pereira da Silva, diversos dados económicos da Irlanda, escrevendo de seguida: «Este exemplo da Irlanda deve ser cuidadosamente avaliado, sendo inaceitável a sua permanente desvalorização pelo poder político por razões meramente defensivas, como se alguma vez as questões se resolvessem pela negação da realidade desagradável».

Escrevemos a seguir: «Por isso, propomos que a convergência real de Portugal com os países mais avançados da União Europeia passe a ser quantificada e os Governos responsabilizados politicamente pelos objetivos programados, na medida em que a convergência com a UE é ainda o único elemento estratégico consensual entre todos os Governos».

Infelizmente, sucessivos Governos até hoje passaram a comparar a performance da economia portuguesa com a média europeia, muito influenciada pelos países mais desenvolvidos do patamar superior de riqueza, evitando todas as comparações com a Irlanda e posteriormente com os países do leste da União Europeia. Ou seja, sucessivos Governos fogem a fazer a avaliação das suas políticas, o que revela preferirem manter os portugueses na ignorância a fazer uma avaliação séria das suas decisões. Ora as decisões sistematicamente bem-sucedidas dos Governos irlandeses mostram um caminho que poderia e deveria ter sido estudado e seguido conforme proposto por nós em 2001.

Infelizmente, o mesmo desejo de enganar os portugueses continua. Por exemplo, na semana passada, o comissário europeu Apostolo Tzitzikostas esteve em Portugal na tentativa de convencer o Governo português do erro de optar pela bitola ibérica na ferrovia e para se disponibilizar a apoiar o financiamento europeu para a construção do Corredor Atlântico em bitola europeia, sendo que o ministro e o Governo tudo fizeram para minimizar a importância e o significado da visita. Os meios de comunicação fizeram o mesmo e a Assembleia da República seguiu o exemplo, sendo que o Governo da AD prefere pagar a construção das linhas do Porto a Lisboa e de Lisboa a Badajoz através de parcerias público-privadas, a suportar pelos contribuintes portugueses, em vez do financiamento europeu a fundo perdido dessa parte do Corredor Atlântico. Pergunto: até onde vai este Governo de Luís Montenegro e do ministro Pinto Luz na defesa dos interesses de alguns poucos à custa do interesse geral do país?

Pessoalmente, tal como em 2001, continuarei a fazer as previsões certas a que o tempo dá razão e a denunciar a desgraçada política dos interesses particulares à custa do interesse geral de todos portugueses e do desenvolvimento económico do país.

Fevereiro 17, 2025 . 15:00

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