Uma junta de freguesia que também é orizicultora

Longe vão os tempos de ouro do cultivo de arroz em Salreu. Aqueles tempos em que os orizicultores até iam às terras vizinhas de Veiros, Murtosa ou Branca buscar mão de obra.
Resultado da emigração e também da instalação de muitas indústrias em Estarreja, a produção foi diminuindo ao ponto de terminar de vez. Durante «largos anos» não houve orizicultura na vila salreense.

Foi a junta de freguesia (JF) liderada por Manuel Almeida que, em 2018, decidiu reativar esta «prática ancestral». E, precisamente nesse sentido, desafiou alguns agricultores locais a juntarem-se ao seu projeto “Recuperação do Cultivo do Arroz de Salreu”.

«Achei que tínhamos mesmo de avançar para o terreno. Um agricultor cedeu-nos uma propriedade para cultivarmos. Depois, tivemos de arranjar mais alguns parceiros para lavrar o terreno, semear a terra e fazer o acompanhamento», contou o autarca local ao Diário de Avei­ro, acrescentando: «O primeiro ano correu muito bem. Tivemos a parceria de dois orizicultores».

No ano seguinte, «estávamos tão entusiasmados que quisemos aumentar a área e fizemos uma campanha para suportar os custos da produção. Tivemos padrinhos do Brasil (à distância), coletividades de Salreu, pessoas de Aveiro. Tivemos mais de 20 padrinhos. E só não a­ceitámos mais, porque não havia terreno já para todos». No entan­to, «infelizmente, a cultura desse ano não nos correu tão bem. Foi u­ma desilusão», lamentou.

Desde então, a JF tem dado continuidade a este seu projeto, mas sem os dois parceiros iniciais que, por motivos de força maior, tiveram de parar a atividade. Ainda em 2024, foi só a JF que cultivou, tendo produzido cerca de quatro toneladas de um arroz que, note-se, «não é como um arroz qualquer». «O nosso é mais caldoso e saboroso», garantiu Manuel Almeida, lembrando que, ainda no final do ano transato, a JF lançou um livro sobre a freguesia que, entre outras particularidades e curiosidades, compila cerca de 30 receitas em que o arroz de Salreu é um dos ingredientes. Entre estas está, por exemplo, a receita do “Arroz de Enguias da Avó Maria”, a fazer lembrar os tempos de outrora «quando aqui abundavam o arroz e as enguias».