O fracasso do Green Deal europeu
No entanto, cada vez mais se ouvem críticas sobre a incongruência deste objetivo, especialmente no que diz respeito aos potenciais impactos económicos e à distribuição desigual das responsabilidades e dos impactos reais da redução de emissões.
A crítica principal centra-se na ideia de que a Europa, e nomeadamente países como Portugal, contribuem com uma percentagem muito baixa das emissões globais de gases de efeito estufa, enquanto outras grandes economias, como a China, os Estados Unidos e o conjunto dos outros países da Ásia são responsáveis pela fatia de leão. Por exemplo, a China é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, contribuindo com cerca de 30 por cento das emissões globais, os Estados Unidos 14 por cento, enquanto a Europa representa menos de sete por cento e Portugal menos de 0,1 por cento.
Neste contexto, questiona-se a racionalidade de impor custos e restrições significativas à economia europeia, que diminuiu a sua competitividade e originou a migração de parte significativa dessa indústria, exatamente para as regiões mais poluentes que escapam a estas medidas rigorosas e têm custos de energia muito mais baixos.
Uma das justificações do Green Deal foi que, com esta liderança, a Europa iria desenvolver e liderar as tecnologias críticas para a descarbonização e criar empregos verdes. Ora a realidade é exatamente a oposta!
Quem hoje lidera todas as tecnologias críticas da descarbonização é exatamente o país que mais contribui para as emissões de gases de efeito de estufa, a China!
A China domina totalmente as indústrias da produção solar e as respetivas cadeias de abastecimento, domina a indústria das baterias e dos automóveis elétricos e respetivas cadeias de abastecimento, e está em vias de dominar as indústrias da produção eólica e, cúmulo dos cúmulos, até da indústria nuclear onde se iniciou há apenas 20 anos. Nos últimos anos, a China instalou mais produção solar do que a Europa e os Estados Unidos juntos, instalou mais eólica do que os Estados Unidos e a Europa juntos, produz mais baterias e carros elétricos que a Europa e os Estados Unidos juntos e tem 30 reatores nucleares em construção!
Defensores do Green Deal Europeu argumentam que a Europa, historicamente uma grande emissora de poluentes, tem a responsabilidade moral e ética de liderar pelo exemplo na transição para uma economia mais verde e sustentável. Além disso, salientam os benefícios a longo prazo em termos de saúde, qualidade de vida e inovação tecnológica que uma economia baseada em energias renováveis e de baixo carbono pode trazer.
Mas a realidade é que o problema das mudanças climáticas é geral, e tem de ser resolvido em conjunto, de nada valendo diminuir essas emissões num local, enquanto nos países mais poluidores se continua a queimar carvão como nunca! E, ao mesmo tempo, são esses países que conseguiram controlar todas as tecnologias verdes, mas também as sujas!
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris vem lançar uma nova pedrada neste pântano. De nada vale o esforço europeu, quando nos locais onde este problema efetivamente se resolverá ou não, as indústrias sujas e as verdes prosperam à custa dos sacrifícios europeus. Há que adotar uma posição pragmática rapidamente, uma vez que o problema é de todos, e a estratégia europeia do Green Deal não resultou. Na minha perspetiva, porque este Green Deal tinha muito de ideologia e pouco de ciência, propondo uma agenda aos Estados-membros baseada em escolhas de tecnologias pelos políticos e não pelo mercado.