
Cegueira no berço torna aguedense numa adolescente independente
Descobrir a cegueira na idade adulta é sinónimo da pessoa ter de encontrar um novo significado para a vida, uma vez que se perdem as competências básicas. Porém, o diagnóstico no berço não comporta as mesmas limitações, devido ao processo de adaptação mais acelerado, assim como aconteceu com Eva Baptista, a adolescente de 12 anos que aos quatro meses perdeu a visão, devido a uma displasia retiniana com início pré-natal, designada Amaurose Congénita de Leber (ACL).
A cegueira na infância e os impactos sociais
Ser mãe esteve sempre nos planos de Elisabete Lopes, residente em Águeda. Após seis anos de concretizar o sonho, voltou a engravidar e, apesar de ter um gene com alterações, tal como o marido, nada fazia prever que Eva Baptista nascesse com uma incapacitação visual. «Assim que fiz a amniocentese, não foi detetada nenhuma suspeita», informou a aguedense.
Nesta sequência, Elisabete Lopes divulgou ao Diário de Aveiro que a filha é cega, mas «ainda vê a luz do dia», o que acaba por incomodar a adolescente, pois «sofre de fotofobia», fazendo com que utilize regularmente óculos de sol. Para esta mãe, o nascimento da Eva Baptista e a descoberta da cegueira «deram um novo sentido à vida», caso contrário, «não compreendia certas situações», explicou a aguedense, frisando a aprendizagem constante.
Ao contrário da reação de Elisabete Lopes, o pai da menina «atravessou uma fase complicada de aceitação», mantendo-se distante e revoltado. Todavia, a filha mais velha, de 18 anos, ainda que se tenha sentido culpada pela incapacidade da irmã, uma vez que esta nasceu a seu pedido, hoje, «mantém uma relação próxima e acaba por a educar», pois faz com que seja «uma menina autónoma», referiu a mãe.
Durante os primeiros seis anos de vida, Eva Baptista foi acompanhada pela CAIPDV, um organismo sediado em Coimbra. Após essa fase e até ao momento, «frequenta, uma vez por ano, uma consulta da baixa visão», acrescentou.
Com o apoio de uma bengala, a adolescente afirma que «não quer ver» e utiliza o humor para brincar com a situação, sobretudo para afastar comportamentos de caridade. «Ainda existe muito preconceito e discriminação», em particular da comunidade portuguesa, em que as pessoas «questionam diversos assuntos, entre eles “como vai para a escola; como lê?”», recordou Elisabete Lopes. Estas são algumas interrogações que «não fazem sentido», pois «a minha filha tem uma vida completamente normal», proferiu a mãe.
A frequentar o 7.º ano na Escola Básica João Afonso de Aveiro, Eva Baptista mantém «uma boa relação com os amigos», porém, ainda existem crianças que «não sabem lidar com a situação».
Segundo Elisabete Lopes, a filha sempre foi «muito independente nos estudos», graças ao CAIPDV, « que tem a sensibilidade de, no último ano, antes das crianças entrarem para a escola, começar a ensinar “braille”».
Ainda nesta vertente, é notória a ausência de apoio e «formação das pessoas». Um dos exemplos é a falta de material escolar adaptado.
Todavia, os manuais escolares «têm sido recuperados» de uma outra menina cega que está dois níveis acima desta adolescente. |