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Cegueira não é uma «limitação intransponível»

À frente da Direção Nacional da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal há quatro anos, Rodrigo Santos assegura que a cegueira e deficiência visual não devem ser encaradas como «inoperacionais». Entender a incapacidade é «essencial para a concessão de sociedade»

No âmbito do Dia Mundial do Braille, assinalado a 5 de janeiro, o Diário de Aveiro esteve à conversa com Rodrigo Santos, presidente da Direção Nacional da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), sobre a importância desta data para a consciencialização da população sobre os direitos humanos das pessoas cegas e com deficiências visuais. A apoiar cerca de 1.500 pessoas, a ACAPO «gostava de apoiar muitas mais, mas sabemos que existe um conjunto de necessidades em vários domínios que ainda não conseguimos responder», destacou o responsável.

Diário de Aveiro: De acordo com as Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, globalmente, cerca de 1,3 mil milhões de pessoas vivem com alguma forma de distúrbio de visão, sendo que, em Portugal, existem cerca de 620 mil deficientes visuais. Como descreve o atual panorama nacional?

Rodrigo Santos: Atualmente, esses valores estão acima dos mencionados, uma vez que, nos últimos Censos, realizados em 2021, está descrito que existem cerca de 900 mil pessoas que declararam ter alguma dificuldade visual. No entanto, não podemos afirmar um número concreto porque há mui­to tempo que não existe uma operação estatística que apure com rigor quantas pessoas é que correspondem à associação do que é ter cegueira ou baixa visão (abaixo dos 30 por cento).

Em termos do panorama, o primeiro obstáculo é não termos a noção exata da realidade da população que tem algum tipo de deficiência visual. Isto acontece por duas razões: o facto das próprias pessoas não se aperceberem da defici­ência e o estigma da sociedade que se faz sentir presente, isto é, ainda existe quem encare a deficiência visual como inoperacional. Para a maior parte das pessoas, deixar de ver é encarado como uma tragédia ou fatalidade, o que gera negação e traz uma armadilha grande, no sentido de não estarem alertas para a deficiência, pois acreditam que esta é profundamente incapacitante quan­do, na realidade, não é.

A principal limitação também decorre da perceção da deficiência como uma limitação quase intransponível, o que não é verdade. Se for feito um esforço da própria pessoa e da sociedade, a limitação é sempre ultrapassável.

A procura de ajuda na ACA­PO surge numa fase inicial ou avançada da ceguei­ra?

Quando se trata de cegueira, as pessoas chegam numa fase inicial, mas se falarmos em baixa visão, a procura de ajuda chega mais tarde, quando a pessoa sente a dificuldade visual como inultrapassável.

Tendo em conta estes factos, existe um maior esforço na introdução da reabilitação funcional que permita maximizar durante mais tempo o uso da visão.

 

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Fevereiro 2, 2025 . 09:45

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