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Beirute/Explosões: Crise sanitária pode ser semelhante à da guerra civil


Quinta, 06 de Agosto de 2020

As quase 300.000 vítimas das explosões de terça-feira em Beirute e uma possível escassez de medicamentos fazem temer uma crise humanitária no Líbano comparável à da guerra civil, disse o presidente da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Pelo menos 137 pessoas morreram e 5.000 outras ficaram feridas após duas fortes explosões sucessivas que devastaram a capital do Líbano na terça-feira.
Cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio que estavam armazenadas no porto de Beirute estarão na origem das explosões, que também causaram até 300.000 desalojados.
Em declarações à agência France-Presse, o franco-libanês Mego Terzian disse que a capital do Líbano viveu “durante a guerra libanesa (1975-1990) tempos difíceis e semelhantes”. “Recordo-me de bombardeamentos a depósitos de petróleo que não estão longe do porto. Eram as mesmas cenas, a cidade estava completamente devastada, as pessoas andavam nas ruas, feridas, desesperadas, sem saber para onde ir”, contou. “Alguns funcionários da MSF, mobilizados durante esse período, também estão muito afectados e tocados pela gravidade dos testemunhos, que nos levam de volta a esse período tão difícil”, adiantou.
Mego Terzian indicou que, segundo informações da equipa da organização no local, na terça-feira registou-se “um afluxo maciço aos hospitais de Beirute e da região” e “muito rapidamente, as salas de emergência ficaram sobrecarregadas”, tendo alguns doentes sido transferidos para fora da cidade.
No entanto, “a situação parece ser muito mais estável desde quarta-feira”, adiantou, explicando que “os profissionais de saúde libaneses, especialmente aqueles que já têm experiência na guerra civil, conseguiram fazer uma triagem muito rapidamente (…) e priorizar os pacientes que precisavam de passar pelo bloco operatório”.
Segundo o presidente da MSF, três hospitais do centro da cidade foram afectados pelas explosões, incluindo um que tinha 1.100 camas, e o principal centro de diálise do país “ficou completamente destruído”.
Terzian indicou que países da zona, como o Qatar, o Kuwait ou a Jordânia, vão instalar hospitais de campanha e que a MSF “a pedido das autoridades” vai garantir “o fornecimento de certos medicamentos, em particular antibióticos e analgésicos, e especialmente sacos de sangue”.
Presente nas reuniões de crise da Organização Mundial de Saúde com outras organizações humanitárias, a MSF tem como prioridade nos próximos dias o acompanhamento dos cerca de 300.000 desalojados, disse.
“A outra prioridade serão os doentes crónicos, os que têm cancro, VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) ou doenças respiratórias, como asma, com risco de interrupção no fornecimento de medicamentos”, indicou o presidente da MSF, adiantando que a ONG soube que “armazéns para medicamentos e vacinas localizados no porto de Beirute foram danificados”.
A Protecção Civil portuguesa está pronta para enviar até quatro equipas para o Líbano, relacionadas com a resposta a emergência médica, a análise do ar e a actividades em estruturas colapsadas, disse à Lusa Duarte Costa, comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil.


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