As celebrações presenciais recomeçaram ontem no Santuário de Fátima, onde mais de um milhar de fiéis circulava pelo recinto, de máscara na cara e com a fé inabalável a acompanhá-los.
Do Bombarral, o casal Santos decidiu ir ao Santuário cumprindo um percurso de cerca de 70 quilómetros a pé. «Não foi nenhuma promessa. Era algo que tínhamos gosto em fazer e decidimos fazê-lo hoje (ontem). Foi uma alegria enorme por termos o reencontro com Nossa Senhora de Fátima. É sem dúvida uma inspiração de muita paz», realçam.
Um pouco mais a norte, Madalena Fortuna veio de Barcelos com a família para assistir à missa presidida pelo reitor do Santuário, Carlos Cabecinhas. «Há muito que ansiava por este momento. Tinha muita fome de fé. Estou muito feliz por vir de novo a Fátima. Tinha organizada a peregrinação a pé nos dias 12 e 13 de Maio, que foi impossível de realizar e me deixou muito triste», contou à Lusa.
Eram 11h00 em ponto, quando o padre Carlos Cabecinhas subiu ao altar do recinto da oração para celebrar a primeira missa presencial pós-confinamento. Rapidamente as mais de mil pessoas presentes no Santuário se viraram para o altar e assistiram à celebração da missa, como se fosse uma primeira vez. Talvez, por isso, no final da celebração os fiéis aplaudiram entusiasticamente o momento.
«Hoje é um dia de alegria», afirmou o padre Carlos Cabecinhas, que alertou para os cuidados que se devem continuar a ter para evitar a propagação do novo coronavírus, perante os fiéis, uns ajoelhados outros sentados no chão ou apenas de pé. Para o momento da comunhão, vários fiéis foram convidados a participar como ajudantes e oferecerem a hóstia na mão. Foi o caso de um grupo de peregrinos do Porto. Com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima na mão, visivelmente emocionada e de voz embargada, Marina Bártolo diz, depois, à Lusa, que foi «uma honra» e um «momento muito emotivo». «Teve um significado muito grande. Estamos aqui pela minha mãe, que faleceu há oito dias, e sentia falta desta paz. Saio daqui com maior conforto e cheia de paz», confessou a peregrina, com a concordância da irmã, que acrescenta que a participação na celebração foi algo que os chamou.
“Estamos confiantes de que
é seguro vir ao Santuário”
Aos jornalistas, Carlos Cabecinhas afiançou que o retomar das celebrações garante todas as «condições de saúde e de segurança». «Determinámos percursos dentro dos espaços celebrativos e temos equipas acolhedoras nos espaços fechados. No espaço aberto, vamos ter uma trilha sonora chamando a atenção para uma série de normas e procedimentos de segurança. Fizemos a colocação de alguns painéis exteriores para quem acede ao Santuário ter a percepção de um conjunto de procedimentos que deve observar. Estamos confiantes de que é seguro vir ao Santuário e participar nas nossas celebrações», sublinhou o reitor do Santuário de Fátima.
Carlos Cabecinhas admitiu que este «será um ano com menos peregrinos» e constatou que «vai demorar até se recuperar de novo aquilo que era o afluxo normal de peregrinos ao Santuário». «Há algum medo, não em relação a Fátima. É um medo genérico em relação àquilo que possa ser o espaço de contaminação com o novo coronavírus e demora algum tempo a recuperar essa confiança, mas penso que a pouco a pouco ela se vai recuperando. Mas, não tenho dúvidas de que este ano vai ser um ano com muito menos peregrinos em Fátima» disse.
O padre admite que presidir a uma missa num espaço sem aglomerados de pessoas «é uma sensação de alguma estranheza», mas que «se conjuga com a responsabilidade necessária». Carlos Cabecinhas explicou que nos espaços fechados estão assinalados os lugares onde é possível sentar com o devido distanciamento de segurança, o reitor reforçou que a preocupação que o Santuário tem transmitido se deve à «responsabilidade». «Não queremos, de forma alguma, que quem vem possa sentir o Santuário como uma ameaça para si», concluiu.