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Pandemia com forte impacto nos planos de viagem e turismo


Terça, 12 de Maio de 2020

A pandemia provocada pela COVID19 teve um forte impacto na percepção de segurança e planos de viagem e turismo dos portugueses. A conclusão é de um estudo conjunto do Politécnico de Viseu (PV) e da Universidade de Coimbra (UC), feito a partir de dados recolhidos ao longo dos últimos três meses, por questionário online, disponível em 21 línguas.
Em comunicado, os autores do estudo explicam tratar-se do primeiro trabalho “a analisar os efeitos da axtual pandemia na percepção de segurança para viajar no país e no estrangeiro e para a prática de várias actividades de lazer e turismo, bem como o medo e a preocupação relacionados com o contágio e as medidas/restrições com as quais os residentes em território nacional concordam para se sentirem mais seguros”.
Numa primeira fase, a equipa, constituída por Carla Silva, José Luís Abrantes, Manuel Reis e Odete Paiva, docentes do PV, e Cláudia Seabra, da UC, analisou os dados totais daqueles vários aspectos. Posteriormente foi feita uma análise do tipo sondagem, para se perceber a mudança de opinião dos residentes nacionais ao longo do tempo, considerando cinco momentos marcados por eventos específicos referentes à actual pandemia, nomeadamente, 2 de Fevereiro, quando foram confirmados os primeiros casos na Europa (dois turistas chineses em Itália), 2 de Março, dia em que foram confirmados os primeiros dois casos de infecção em Portugal, 18 de Março, início do primeiro Estado de Emergência, 2 de Abril, dia em que foi decretado o segundo Estado de Emergência, e finalmente o período entre o decreto do terceiro Estado de Emergência a 18 de Abril e o seu termo em 2 de Maio.
Os principais resultados do estudo, salientam os autores, “mostram que a actual pandemia tem um impacto significativo na percepção de segurança dos portugueses para viajar no país e no estrangeiro”. “Os residentes nacionais concordam que a segurança é um factor fundamental para viajar e inclusive é o atributo mais importante para a escolha de um destino, em termos globais, mas é ainda mais crucial quando se consideram as viagens internacionais. Os respondentes consideram que, devido à pandemia, são arriscadas as viagens para férias, deslocações de trabalho, viagens com a família ou para visita de amigos e familiares dentro do país. Estas respostas são ainda mais expressivas para as mesmas viagens no estrangeiro. Finalmente, consideram que medidas de segurança adicionais nos aeroportos tornam as viagens mais seguras no país e no estrangeiro”, acrescentam. Numa análise por idades, todas as gerações das mais novas às mais velhas, consideram a segurança como um dos aspectos mais importantes para viajar. Contudo é a geração mais velha a revelar uma percepção de risco de viagem mais elevada seja em destinos nacionais ou em destinos internacionais.
Por outro lado, o estudo indica que, devido à ameaça do novo coronavírus, os residentes nacionais sentem-se muito inseguros para praticar actividades de lazer e turismo. O destaque vai para a ida a casinos ou locais de diversão nocturna, que 80% dos respondentes indica como actividades muito inseguras. Entre 60% a 80% classifica também como muito inseguras as visitas a parques temáticos, galerias, museus e monumentos, centros urbanos e centros históricos, a participação em eventos como concertos, festivais, eventos desportivos ou religiosos, a prática de desportos em espaços fechados, fazer refeições em restaurantes, ficar em alojamentos hoteleiros, participar em visitas turísticas ou fazer compras em centros comerciais e mercados.
Já a ida a praias, rios e lagos é uma actividade menos insegura, segundo os participantes no estudo. A ida a parques naturais, percursos pedestres e a prática de desportos de natureza são as únicas actividades consideradas como relativamente seguras pelos portugueses no contexto da pandemia. As gerações mais velhas são aquelas que, tendencialmente, demonstram um maior receio para praticar todas as actividades de lazer e turismo.
No que se refere ao medo e preocupação relacionados com o contágio, observou-se que 85% dos inquiridos sente que cidadãos e turistas poderão ser vítimas de contágio e que esse receio se aplica a si e aos seus familiares. Apesar dessa preocupação, o nervosismo demonstrado é moderado, referindo também que sente pouco ou nenhuma necessidade de informação adicional sobre medidas de protecção em relação à covid-19. Finalmente, cerca de 50% dos respondentes afirma que vão mudar vários aspectos da sua vida e rotinas quotidianas por causa da doença, mas no que concerne aos planos de férias e viagens a percentagem sobe para 65%. Num retrato geracional esses receios são mais vincados na geração mais velha, sendo que a geração com idades entre os 40 e os 65 anos, sente maior necessidade de informação adicional para se proteger de contágio, do que as gerações mais novas.
Foi igualmente questionado quais as medidas/restrições com as quais os residentes nacionais estavam de acordo. Os resultados indicam que, independentemente da faixa etária, “os portugueses são unânimes sobre a obrigação de quarentena para os casos diagnosticados (95%) e um maior controlo das fronteiras (86%)”. É também elevada a concordância com as limitações não só em Portugal como em todos os países para a entrada de estrangeiros, principalmente de zonas afectadas pela doença (62% a 64%). As respostas são mais moderadas na aceitação de medidas mais impositivas como fecho total de fronteiras (53,5%) ou obrigação de todos os cidadãos serem examinados por equipas médicas (52,5%).
A avaliação das respostas nos cinco períodos temporais já referidos, indicam que o medo de viajar pelos residentes nacionais aumentou progressivamente, a cada período estudado, tal como o medo de contágio em termos pessoais e familiares. Na vigência do terceiro Estado de Emergência, os portugueses sentiram, contudo, ser menos arriscado viajar, principalmente dentro do país. Paralelamente, a importância atribuída à segurança foi aumentando atingindo os valores mais elevados no último período, sobretudo para as viagens internacionais. No início da investigação, viajar com a família era considerado seguro ou muito seguro, sobretudo em Portugal. Essa percepção diminuiu drasticamente ao longo do tempo, tendo também diminuído a diferença entre fazê-lo em Portugal ou no estrangeiro.
Quanto à percepção de segurança para a prática de actividades de lazer e turismo, esta atingiu os níveis mais baixos durante o primeiro Estado de Emergência. No período seguinte, entre 2 e 17 de Abril, registou-se uma melhoria na percepção de segurança, em todas as actividades avaliadas, embora com crescimento diferenciado. O último período avaliado, de 18 de Abril a 2 de Maio, apresentou resultados díspares. Actividades como visitas a parques temáticos, galerias, museus e monumentos, centros urbanos e centros históricos e a ida a praias, rios e lagos mantêm a tendência de crescimento na percepção de segurança.
Os investigadores destacam a ida a parques naturais, percursos pedestres e a prática de desportos de natureza, “por serem as actividades consideradas mais seguras, apresentando valores muitos próximos dos que se verificavam antes dos primeiros casos de covid-19 em Portugal.
Actividades como participar em eventos, concertos e festivais, fazer compras em centros comerciais e mercados e ficar em alojamentos hoteleiros mostram uma estagnação na percepção de segurança, sendo esta negativa.
O estudo, que envolve o Centro de Investigação em Serviços Digitais (CISeD) do IPV e o Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da UC, está ainda a decorrer e permitirá num futuro próximo apurar os impactos da covid-19 não só em Portugal como também noutras regiões do mundo. 


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