Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
Fundador: 
Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: 
Adriano Callé Lucas

Adopção de famílias ajuda a combater fome na Baixa


Quarta, 29 de Abril de 2020

Manuela Ventura

A resposta foi pronta. «Há solidariedade», afirma Helena Palrinhas, satisfeita com a forma como as famílias, as entidades, as instituições, responderam ao desafio lançado pelo Centro Comunitário de Inserção da Cáritas da Baixa de Coimbra. Uma campanha lançada em meados do mês. Um desafio às famílias menos afectadas pela crise para darem um pouco do que ainda têm a quem praticamente não tem nada. As 22 primeiras famílias foram todas adoptadas, num espaço de tempo recorde. Todavia, as dificuldades e as carências estão longo de ser ultrapassadas. Pelo contrário. As necessidades e, sobretudo, as pessoas necessitadas, crescem todos os dias.
«Neste momento temos 37 famílias sinalizadas», afirma a psicóloga, apontando para um universo de 101 pessoas, incluindo um número significativo de crianças. «São famílias monoparentais, casais com filhos, pessoas isoladas», explica a técnica responsável pelas campanhas do Centro Comunitário. Em comum, todas estas famílias têm o facto de a sua vida ter levado um rombo brutal com a doença do novo coronavírus, pois viram os seus locais de trabalho fechar a porta e os rendimentos substancialmente reduzidos, sem que as despesas sofressem qualquer redução. Confinadas ao espaço das quatro paredes de casa, com muitas crianças, restou-lhes bater à porta do Centro Comunitário e pedir ajuda.
Helena Palrinhas apela, de resto, a todos os que precisam de ajuda para colocarem a vergonha de lado e solicitarem apoio. «Este é o nosso trabalho. Fazemos isto todos os dias. Agora, de uma forma agravada, pela situação que vivemos», afirma.
Das 37 famílias, «29 já foram adoptadas», por «famílias», mas também por «instituições, grupos de escuteiros, colegas de fábrica ou o IPO», esclarece. Ain­da há oito famílias para adopção. «Estamos em crer que vamos conseguir», afirma, confiante. «Há pessoas que não querem assumir o compromisso, porque não sabem como vai ser o dia de amanhã», explica. Todavia, essas mesmas pessoas mostram a sua solidariedade, «entregando-nos sistematicamente cabazes de alimentos», que o Centro entrega às famílias que ainda não têm “mecenas”.
«As pessoas estão a responder de uma forma fantástica», agradece Helena Palrinhas, responsável pela campanha, destacando a «enorme solidariedade» que, neste momento difícil, se faz sentir.
As crianças, conta a técnica, estão a fazer desenhos, para oferecerem, quando tudo estiver bem, a quem ajudou as famílias. «Afinal os anjos existem!», garante o jovem autor de um desses trabalhos.
O programa “Somos Família” convida uma família (ou grupo) a adoptar uma família que, neste momento de crise, precisa de apoio. Isso significa garantir, uma vez por mês, a entrega de um cabaz de mercearia, que permita que a família tenha comida para pôr na mesa. Os frescos, nomeadamente iogurtes, verduras, peixe e carne, são adquiridos e entregues posteriormente, pelo Centro Comunitário, com a verba proveniente da venda de máscaras de protecção.
«Não somos os únicos a ajudar», ressalva Helena Palrinhas, destacando o «excelente trabalho» que a União das Freguesias de Coimbra está a desenvolver, em parceria com outras entidades, para garantir o apoio necessário a esta vasta comunidade da Baixa da cidade.


Suplementos


Edição de Hoje, Jornal, Jornais, Notícia, Diário de Coimbra, Diário de Aveiro, Diário de Leiria, Diário de Viseu