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“Aparecem na Cáritas pessoas que o fazem pela primeira vez”


Eduarda Macário Segunda, 27 de Abril de 2020

Entrevista 

Monteiro Marques, presidente da Cáritas de Viseu, considera que se não se criar uma onda de solidariedade muito forte, com a oferta de bens alimentares e donativos que permitam
ajudar as famílias, “será impossível chegar ao fim do dia com a consciência tranquila”


Qual é a área de abrangência da Cáritas de Viseu?

A Cáritas Diocesana de Viseu pretende estar em toda a Diocese.

Que análise faz da situação vivida actualmente na vossa área de abrangência?
Neste momento estamos a passar por grandes dificuldades. O número de famílias a pedir a nossa ajuda cresceu . O tipo de apoios que nos solicitam sãomais abrangente e diversificado.

De que forma se organizou a Cáritas para responder a esta situação?
Tendo em consideração as medidas de contingência a que estamos obrigados, tivemos primeiramente que nos preparar para poder fazer os nossos atendimentos . As pessoas que nos solicitam ajuda, são recebidas na Cáritas e dentro do possível tentamos conseguir as respostas para as suas dificuldades. Tem sido mais difícil e até por vezes mais complicado fazer os atendimentos, tendo em consideração aquilo que está regulamentado no Plano de Emergência, contudo as dificuldades têm sido superadas e até visitas domiciliárias temos conseguido concretizar.

A Cáritas regista aumento de pedidos?
Sim. O aumento foi quase exponencial. Já tínhamos as famílias que atendemos normalmente durante o ano. Em 2019 atendemos 5.918 pessoas, a que corresponderam cerca de 1.837 famílias. Ora, com esta dificuldade porque todos estamos a passar, com o aumento do desemprego, provocado sobretudo por despedimentos e outras situações que obrigaram os empresários a adaptarem-se a esta nova realidade de tentar manter a empresa. Não efectuando quaisquer vendas ou deixando de prestar serviços, haverá sempre um grande número de trabalhadores que serão penalizados e assim aumenta o número de pessoas no limiar da pobreza.

Que tipo de pedidos são feitos?
Os principais pedidos situam-se no apoio a géneros alimentares,ajudas para medicamentos, comparticipação em rendas de casa, água, electricidade e gás, ajuda na aquisição de material escolar, propinas e outros pedidos mais pontuais que nos surgem de famílias que tiveram que regressar ao nosso país ou que foram impedidas de partir para os países de origem.

Podemos falar já em "novos pobres"?
Sim infelizmente aparecem-nos nos nossos atendimentos, pessoas e famílias que o fazem pela primeira vez. Não estamos a falar só de Viseu, mas de algumas paróquias da nossa Diocese. Muitas famílias nunca pensaram passar por esta dificuldade e acreditamos que se não conseguirmos ajudar, pois estamos no fim da linha, uma vez que há pessoas que já bateram a outras portas, se não conseguirmos respostas, estaremos a colocá-las em situação muitíssimo complicada.

A Cáritas tem capacidade para responder ao crescimento dos pedidos de ajuda?
Não e estamos a passar por dificuldades. Sabíamos que estes tempos iriam ser necessariamente muito difíceis, contudo, a realidade é que os pedidos superaram as nossas expectativas. Como temos dito, se não se criar uma onda de solidariedade muito forte em torno da Cáritas Diocesana, com a oferta de bens alimentares e donativos que nos permitam ajudar as famílias que nos procuram, a creditamos que será impossível chegar ao fim do dia com a nossa consciência tranquila. Estamos angustiados..Acreditamos que quem nos conhece, todos os nossos amigos vão colaborar com a Cáritas no sentido de podermos apoiar mais famílias, mais pessoas que se encontram completamente perdidas neste momento. Por favor contactem-nos para saber a melhor maneira de colaborar, quais são as nossas dificuldades e sobretudo o que podem fazer para minorar o sofrimento de tantas e tantos para quem somos uma verdadeira tábua de salvação.

Acredita que a situação possa vir a agravar-se?
É difícil podermos prever o evoluir desta situação. Contudo, pessoalmente acredito que o pior ainda está para vir. Controlada que esteja a segurança e a vida das pessoas, teremos de pensar na recuperação da nossa frágil economia. Estamos numa região do interior com os problemas a que já nos habituámos. O crescimento e as respostas são mais frágeis e por vezes tardias. Temos contudo esperança que saberemos encontrar em conjunto os melhores caminhos para que a vida dentro de possível se aproxime da normalidade.

Considera que as medidas aprovadas pelo Governo para a área social são suficientes?
Sinceramente julgo que o Governo tem feito um esforço sério para minimizar os efeitos desta crise. Agora, verificamos que as medidas foram manifestamente insuficientes. Há um grande trabalho que nunca é referido e que é feito nas nossa Paróquias, nos Centros Paroquiais onde um grande número de pessoas que pela sua proximidade ajuda, sem que ninguém se aperceba, as famílias da sua comunidade que passam por dificuldades. Sem as respostas que diariamente são oferecidas às famílias mais necessitadas, acredito que seria tudo muito mais complicado.

O que acha que devia ser feito mais para evitar o agravar da situação?
Julgo que sobretudo faltou humildade para pedir ajuda e solicitar a colaboração das Instituições que no terreno e todos os dias trabalham com as famílias mais desfavorecidas. Estamos habituados a resolver os problemas que nos surgem diariamente e tantas vezes a descobrir os caminhos das soluções. Fomos excluídos de todos os apoios. Não nos quiseram ouvir e sobretudo não aproveitaram o nosso conhecimento e a nossa experiência do que fazer em alturas de crise. Termino com um apelo. Por favor ajudem-nos para podermos ajudar... Colaborem com a Cáritas Diocesana de Viseu, na certeza que tudo faremos para que, de um modo totalmente transparente, possamos utilizar os vossos donativos na ajuda às famílias que neste momento difícil mais necessitam para a nossa Diocese.

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