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Camionistas queixam-se da falta de condições para trabalhar em tempo de pandemia


Segunda, 20 de Abril de 2020

Rosette Marques

O abastecimento de bens alimentares, bens de primeira necessidade, medicamentos, entre muitos outros produtos só é possível graças à resistência das muitas centenas de motoristas que percorrem as estradas, agora quase desertas, do país e da Europa para garantir que as prateleiras continuem repletas. Mas as dificuldades são muitas e são eles próprios, os motoristas, que as enumeram. Por sua vez, as associações do sector e os sindicatos estão em conversações com o Ministério das Infraestruturas para garantir o máximo de operacionalidade às empresas transportadoras e garantir condições de trabalho aos motoristas. Uma das medidas passa pela organização de um mapa de divulgação das estações de serviço e restaurantes em funcionamento, ainda que parcialmente, que permitam aos motoristas fazer uma refeição ou usar as instalações sanitárias, à semelhança do que já está disponível em Espanha, com um “Guia Solidário para Transportistas em Tiempo de Crisis”, emitido pela Confederação Espanhola de Transporte de Mercadorias
Sónia Valente, presidente da Associação Nacional de Transportadoras Portuguesas, referiu ao Diário de Coimbra que se trata de «uma medida urgente», pois tendo em conta que já há muitas transportadoras com as frotas paradas, «é fundamental que se dê as mínimas condições de trabalho a quem ainda resiste a percorrer as estradas». Já os motoristas dizem que se a profissão, por si só, já é de «alguma solidão», com esta situação da pandemia «agrava-se muito mais». António José Vilão, com experiência pelas estradas da Europa de muitos anos, confessa «ser desolador percorrer a A23 quase deserta, chegar a Vilar Formoso e encontrar tudo fechado». Em Espanha o cenário repete-se. «Pela A62, não se vê ninguém, agora é que se pode dizer que somos os reis da estrada, mas chegados a uma área de serviço, novamente a desolação. A maioria das estações de serviço estão fechadas. Uma ou outra tem as instalações abertas, algumas apenas vendem sandes e bebidas através do postigo». Mas as queixas vão mais longe. «Sentimo-nos relegados, pois mesmo quando chegamos a algum entreposto para descarregar, somos tratados com dureza. Olham-nos de soslaio para ver se temos luvas e máscaras». Outro problema prende-se com a insegurança. Com as áreas de serviço fechadas, «passar a noite num parqueamento quase deserto impõe respeito», confessa, por sua vez, Jorge Luís, outro motorista de longo curso que se queixa das lonas cortadas por várias vezes.
E se percorrer as estradas da Europa é um verdadeiro degredo, nas estradas nacionais a situação ainda é pior. Há motoristas que cumprem uma semana de trabalho pelas estradas do país, a carregar e a descarregar, regressando a casa só no fim-de-semana. E a situação é «degradante», como confessa Mário Miguel, a trabalhar para uma grande transportadora. «O fornecimento de máscaras, luvas e gel desinfectante é a conta-gotas. Quando chegamos aos clientes, seja para carregar ou para descarregar, somos sempre recebidos com desconfiança» «Parece que nós próprios somos o vírus», desabafa mais um motorista do nacional. E o problema das instalações sanitárias, estações de serviço ou parques de estacionamento é o mesmo.
Anacleto Rodrigues, representante do Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias, confirmou ao Diário de Coimbra todas estas queixas, pois antes de ser sindicalista é também motorista, por isso, sente na pele todas estas dificuldades e recorda que, desde o dia 13 de Março, tem vindo a alertar as entidades competentes para a necessidade de tomar medidas urgentes. Além da rede de espaços abertos para apoio aos motoristas, é também necessário que todas as empresas forneçam aos seus trabalhadores os equipamentos de protecção individual, «o que não está a acontecer na esmagadora maioria dos casos, embora também existam exemplos de boas práticas». Outra situação preocupante passa-se nas bases logísticas, «em que os motoristas têm de esperar pela sua vez para a descarga, em salas com outros motoristas, sem que a distância de segurança se possa cumprir, exactamente por falta de espaço», como refere Anacleto Rodrigues que considera ainda que, em termos sociais, os motoristas que, eventualmente, contraiam a doença Covid-19, deveriam receber a compensação ao abrigo da tabela de doença profissional.


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