Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
Fundador: 
Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: 
Adriano Callé Lucas

“Esta fase que vivemos é um desafio aos mais diversos níveis”


Eduarda Macário Quarta, 15 de Abril de 2020

Que análise faz da situação vivida actualmente no concelho de São João da Pesqueira?
Na verdade, “a vida é mais rica do que a imaginação mais fértil”. Há bem pouco tempo vivíamos no Douro, e no concelho de S. João da Pesqueira – Coração do Douro, momentos que julgávamos de alteração de paradigmas e mudanças que queríamos viessem melhorar a qualidade de vida dos nossos residentes. A Casa do Douro preparava-se para um novo ciclo, os agricultores/viticultores discutiam e esperança de ver o seu produto valorizado, as empresas apostavam no seu crescimento, o turismo crescia e discutia-se uma forma de que parte das receitas revertessem para os territórios. O Município, por seu turno, estava em velocidade cruzeiro na execução de grandes obras e na estabilização das suas contas. O ano de 2020 parecia prometer. Há uns meses, ninguém poderia prever como tudo poderia mudar em tão pouco tempo. Mas tivemos que nos adaptar. O município percebeu cedo, muito antes até da declaração do estado de emergência, que deveria agir. Vive-se, portanto, um clima de grande apreensão pelo futuro, que todos percebem que trará grandes dificuldades ao sector vitivinícola, de ansiedade acerca de quando tudo isto passará e se poderá voltar à vida normal. O trabalho agrícola tem continuado a ser feito, embora com algumas limitações e maiores dificuldades. O problema está na venda de vinhos que não se faz, e isso será um gravíssimo problema para a região.

Como reagiu a população a essas medidas?
A população tem compreendido e cumprido o afastamento social e acatou bem o encerramento de algumas actividades, mas a situação começa, na verdade, a tornar-se incomportável para alguns sectores.

O que é que o município está a fazer para minimizar os efeitos desta situação?
Mesmo antes da declaração do estado de emergência, a Câmara Municipal tomou consciência do problema e adoptou varias medidas de combate e prevenção: encerrando serviços não essenciais, fazendo desinfecção de espaços urbanos, sensibilizando a população, activando o seu Plano de Emergência Municipal com a articulação e compromisso da GNR, bombeiros, saúde local com o presidente da câmara. Duas equipas da câmara fazem também as compras de produtos essenciais e medicamentos aos mais idosos do concelho e a sua entrega em casa. O Município realizou também a suas expensas 495 testes a utentes e funcionários de todas as IPSS, bombeiros, GNR, médicos, enfermeiros e funcionários do Centro de Saúde, e funcionários de serviços externos do município e das juntas. Adquirimos EPI e distribuímos por todas as IPSS e bombeiros. A Câmara Municipal definiu já, também, medidas de apoio socio-económico para o período pós crise, desde isenções de taxas e serviços de obras, derramas, devolução de IRS às famílias, apoio na educação. (texto em anexo)

O município parou os projectos que tinha em curso antes do início da pandemia?
O município estava, na verdade, há uns meses atrás em velocidade cruzeiro na preparação e execução de alguma obras. É verdade que as obras em execução pararam, fruto da necessidade de evitar deslocações, mas esperamos retomá-las este mês tomando todas as cautelas. Já no que respeita a projectos em preparação, o município, mesmo com os técnicos em casa, continuou a desenvolver projectos em tele-trabalho, preparando tudo para um futuro imediato.

Que pedidos mais têm chegado à autarquia?
Preocupação com a desinfecção de ruas, e, muito pertinente, a necessidade de alimentos.

Como vê as medidas já aprovadas pelo Governo?
Julgo que o Governo, sem prejuízo de algo menos bom, tem conduzido bem a contenção desta crise. As medidas de contenção aprovadas julgo serem as adequadas e conhecidas, percebendo-se que tudo nos é desconhecido e por vezes nem sempre bem conduzido. Já quanto às medidas conhecidas por ora para a economia num futuro próximo, aí julgo que o Governo terá de ir bem mais além, sob pena, muito certa, de muitas empresas não subsistirem.

Como olha o futuro?
A pandemia do coronavírus é, como se sabe, um problema global. Por isso as dificuldades de uns são as de outros. Esta fase que vivemos é, por isso, um enorme desafio. Um desafio para a medicina e um desafio socio-económico e politico. Na saúde, nunca o mundo teve tantas ferramentas e conhecimentos que me fazem pensar positivamente, claro, não inocentemente: com preocupação mas esperança. Percebemos que o ser humano é muito hábil em reinventar-se e superar, e algumas empresas estão a reinventar-se, a definirem novos modelos de organização, mas a maioria das médias e pequenas empresas não vai sobreviver se a crise durar muito tempo, e isso é o que me preocupa, quanto tempo vai durar esta crise: sobreviverão as empresas, sobreviverá a qualidade de vida mínima das pessoas afectadas e sem trabalho? Já na política, com reflexos em tudo o que fazemos, o desafio é gigante. As consequências, ainda desconhecidas desta crise, ditam que os governantes se preparem para o que está por vir. Sabemos todos que a vida depois desta crise não será igual nem será fácil, as pessoas e a economia mudaram. O futuro, ainda que com dificuldades, pode ser uma oportunidade para olharmos a vida de forma diferente e mudar para melhor. Mesmo que vivamos tempos de baixo crescimento. A chave, para mim, é a existência ou não de grandes lideranças


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