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“Não estamos preparados para o ensino à distância”


Liliana Figueiredo Segunda, 13 de Abril de 2020

Sandra Santos, residente em Oliveira de Frades e professora há 19 anos está, à semelhança de outros colegas de profissão, a ensinar através do seu computador. Este ano está colocada no Agrupamento de Escolas de Águeda no grupo 120 - Inglês no 1º ciclo, e desde o dia 13 de Março que os seus dias são diferentes. “Tem sido complicado porque o nosso sistema de ensino não está preparado para tal e também dadas as circunstâncias ninguém estava preparado. Como estávamos a duas semanas do final do 2.º período foram enviados materiais diversificados que ajudaram à consolidação da matéria já leccionada”, explica. Em relação à atribuição de notas, Sandra Santos explica que “como estávamos em final de período os diferentes domínios tinham já sido avaliados”.
Para este terceiro período, os alunos até ao 9.º ano vão ter aulas através da tele escola, o que se pode vir a ser um desafio. “A tele escola nunca irá funcionar nos moldes em que foi criada, pois na altura a matéria era dada com recurso à televisão, com a supervisão do professor e em sala de aula. Daí que o contexto em que poderá ser inserida é bem diferente. Será difícil "obrigar" uma criança, em ambiente fechado e em casa, a estar concentrada a olhar horas para o televisor”, diz. A professora teme ainda pelas famílias numerosas que poderão vir a ter muitas dificuldades através deste método. Para este terceiro período, a docente acredita que será mais complicado. “Neste momento há muitas dificuldades e entraves à realização do 3.º período. Não havendo a possibilidade de ser presencial, os maiores obstáculos serão as desigualdades criadas no ensino à distância. Desde logo, porque nem todas as famílias têm acesso à Internet ou possuem computadores em número suficiente para tal. No meu ponto de vista, não estamos preparados para o ensino à distância e dadas as circunstâncias é difícil exigir aprendizagens mesmo tendo Internet ou computador, pois o estar fechado em casa é muito complicado de gerir, social e psicologicamente”, afirma.
Sandra Santos diz ainda ter “sérias reservas, de como será gerida a disponibilidade e conhecimento da maioria dos encarregados de educação para prestar auxílio, principalmente nas crianças do 1.º e 2.º ciclo que têm menos conhecimentos tecnológicos”.

Trabalhar a partir
de casa não tem sido fácil
Para esta professora, mãe de três filhos, não tem sido fácil trabalhar a partir de casa, pois há apenas um computador. “Tenho três filhos: os gémeos estão no 3.º ano e em turmas diferentes e a mais velha está no 7.º ano. Estas últimas três semanas foram uma loucura. Corrigir testes, fazer avaliações de final de período e enviar as fichas de consolidação aos meus mais de 160 alunos, bem como dar resposta às actividades propostas pelos professores dos meus filhos e conseguir, além disto tudo, fazer as actividades domésticas que duplicaram, não tem sido fácil. A acrescentar a tudo isto há o medo e as incertezas de um vírus que nada ou pouco se sabe. Mas vamos vivendo um dia de cada vez”, afirma.
Quanto a esta nova realidade, Sandra Santos diz que, apesar de tudo, os filhos conseguiram aceitar bem. “Os meus filhos, apesar das idades que têm, até aceitaram bem e compreenderam este confinamento. No entanto, passado estas três semanas demonstram ter saudade da escola, de estar com os amigos e, o mais difícil, de conviver com os restantes elementos da família. Temos a sorte de não viver em apartamento e termos bastante espaço envolvente, pelo que realizam actividades e brincadeiras ao ar livre sem risco de contágio”, conclui.

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