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GNR alerta seniores: “não se deixem enganar”


Sábado, 11 de Abril de 2020

Mabilde da Piedade vive sozinha. Sem televisão, porque assim quer desde que foi «roubada». «O radiozito chega para me entreter e diz tudo, só não mostra». É verdade sim, que está informada. Sabe que não pode sair de casa, que tem de manter o distanciamento social, que tem de se «acautelar» neste tempo tão diferente, marcado pela pandemia Covid-19 que veio mudar as vidas.
Mabilde gosta de falar, de contar histórias, recordar episódios. Talvez por isso mesmo se tenha sentido como “peixe na água” quando ontem recebeu a visita da GNR para uma acção de sensibilização sobre o actual estado em que vive o país, com a forças de segurança a reforçarem a mensagem e a perceberem, junto dos mais velhos, se têm asseguradas as necessidades de alimentação e medicação e os cuidados a ter com as burlas. Mabilde, com os seus 92 anos, ou «29» como gosta de dizer, garantiu que tem tudo assegurado. «Só vou ali ao quintal tomar ar», diz a sénior, uma das várias da localidade de Tola, concelho de Penela, que ontem recebeu a visita dos militares da GNR.
Mais abaixo da casa de Mabilde da Piedade, é Albertina Bernardo quem abre a porta à GNR. Aos 82 anos, Albertina vive sozinha há 28 anos, desde que faleceu o marido, e agora ainda mais sozinha, desde que a pandemia se instalou e o estado de emergência foi declarado. «Desde que começaram a anunciar isto, nunca mais saí de casa», disse, garantindo que nada lhe falta e a medicação é trazida por uma vizinha. Os filhos, conta, residem noutros concelhos e o contacto agora é só feito por telefone. «Não se deixe enganar, trocar dinheiro é só no banco», alertam os militares, explicando como é preciso cuidado com as burlas, ao que a sénior respondeu com sentido de alerta, explicando que há pouco tempo foi abordada por um estranho que lhe perguntou se tinha ferro velho, mas Albertina respondeu «de longe», sem sequer se aproximar do portão.
Contacto presencial
Na manhã de ontem, militares do posto da GNR de Penela realizaram uma acção de sensibilização junto de alguns seniores residentes em zonas isoladas do concelho. Na localidade de Tola, várias idosas abriram a porta aos militares que já conhecem de outras acções de sensibilização. Ontem, a chamada de atenção foi ao recolhimento e ao isolamento social, ao mes­mo tempo alertando para ­a facilidade com que surgem as burlas. «Não falar com toda a gente, não atender desconhecidos», esclareceu Albertina Bernardo. A vizinha Dina Maria tem marido, por isso não vive só. Ontem, contudo, estava sozinha quan­do recebeu a visita da GNR a quem mostrou estar informada. «Em minha casa não entra ninguém, só os meus filhos que têm chave», garantiu Dina Maria.
Rui Silva, comandante do Destacamento Territorial de Coimbra da GNR, destaca como é importante o «contacto presencial» junto das populações mais vulneráveis, com a proximidade da GNR a ser igualmente feita através de contacto telefónico.
«Ao longo do ano fazemos sempre este contacto, agora com mais incidência e em mais locais», explicou, destacando as «duas tarefas» dos militares da GNR: «perceber se os idosos têm acesso a alimentos e medicação, porque se não tiverem nós temos a capacidade para promover essa entrega, e alertar porque com este estado de emergência tem havido novos fenómenos criminais, essencialmente burlas».


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