«Antes protecção a mais que protecção a menos». Maria Celeste Alcobia, pneumologista com vasta experiência no tratamento de doenças respiratórias, resume deste modo a sua posição em defesa do uso de máscaras tanto por profissionais de saúde como pela população em geral.
Questionada pelo nosso jornal sobre a generalização do uso de máscaras na protecção contra o novo coronavírus, a médica de Coimbra não tem dúvidas sobre a importância desta medida para reduzir o risco de contágio.
«O uso mais amplo de máscara leva à diminuição da propagação da doença, não só neste período tão assustador, como em outras situações que tenham indicação para a sua utilização. O uso de máscara, se devidamente utilizada, tem um efeito protector, o seu uso por pessoas assintomáticas tem igualmente fundamentação teórica pois pode impedir (impede) que gotículas expelidas possam atingir outro indivíduo», defende, reforçando que «muitas pessoas têm infecções sem sintomas» e «o uso da máscara pode impedir que as gotículas que transportam o vírus infectem outras pessoas».
Celeste Alcobia, que trabalhou no Hospitais da Universidade de Coimbra cerca de quatro dezenas de anos (aposentou-se no passado mês de Janeiro e exerce presentemente no Grupo Sanfil Medicina), na Pneumologia, nos serviços de luta anti-tuberculose e também a fazer urgência, lembra--nos que sempre foi defensora do uso de máscara, mesmo quando a sua necessidade não parecia a outros (incluindo profissionais de saúde) uma evidência.
«Recordo o ano de 2009, em que estive na linha da frente, na escala de Urgência de Pneumologia e na escala Gripe A (H1N1) que é uma variante do vírus da gripe. A sua disseminação originou uma pandemia. Já nessa altura o uso de máscaras era prática corrente no meio hospitalar bem como a desinfecção das mãos e o confinamento. Essa gripe também levou aos cuidados intensivos alguns jovens, que não conseguiram vencê-la», conta.
Nos dias de hoje a aflição tem outro nome, Covid-19, e é provocada por um vírus diferente, o SARS-CoV-2, que, sublinha a médica, se transmite «por gotículas e contacto próximo». «Quando se fala, espirra ou tosse, há gotículas que saem “disparadas” da nossa boca e assim precisamos de usar uma máscara. As máscaras podem impedir que as gotículas que transportam o vírus infectem outras pessoas ou que sejamos infectados por sermos atingidos por essas gotículas expelidas por outrem», afirma Maria Celeste Alcobia, ao salientar o «efeito protector da utilização universal de máscara a usar pelos profissionais de saúde e pela população em geral, nomeadamente nos locais ou espaços públicos onde o distanciamento social de segurança seja mais difícil».
Sem chapéu de chuva é maior o risco de nos molharmos
Para ilustrar o seu ponto de vista, a médica aponta-nos uma imagem: «Não caindo no “exagero (?)” de alguns países asiáticos onde o uso generalizado de máscaras em tempo “normal” se verifica por razões/motivos de poluição em excesso, agora, no tempo da pandemia actual, não necessitamos da “evidência científica”, qualquer que ela seja, para intuitiva e simplesmente concluirmos que em dia de chuva temos um maior grau de probabilidade de pouco nos molharmos se usarmos chapéu de chuva (e tanto menos quanto melhor e maior for o chapéu) e, pelo contrário, também sem evidência científica, temos a garantia de muito.