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Covid-19: Párocos ‘eliminam’ barreiras e apostam na Internet para estarem próximos dos fiéis


Legenda: Patrício Oliveira (ao centro) transmite as eucaristias na rede social Facebook e no Youtube (Cristiana Alves/texto/DR/foto) Terça, 07 de Abril de 2020

A Igreja está vazia. Não se ouvem passos nem ‘burburinhos’ e os bancos estão despidos de fiéis. As crianças e as catequistas já não marcam presença e, de uma ponta a outra do espaço, paira um vazio e um silêncio nunca antes presenciado. Este é o cenário que, actualmente, se apresenta perante os padres Patrício Oliveira e Gianfranco Bianco. Os tempos são de pandemia e, por estes dias, as portas das igrejas encontram-se fechadas à comunidade, como nunca antes estiveram.
Ainda assim, e porque quando ‘Deus quer, o homem sonha, a obra nasce’, também a Igreja Católica encontrou uma forma de se manter próxima dos fiéis. A solução não podia ser mais simples e actual: o recurso às redes sociais, onde a eucaristia é transmitida em directo.
Assim acontece um pouco por todo o distrito de Leiria. Na Paróquia da Marinha Grande, por exemplo, a palavra de ordem é só uma: “manter a proximidade com os paroquiantes”.
“A realização de directos na página de Facebook da Paróquia surgiu como uma forma de continuarmos próximos dos paroquiantes e das pessoas que conhecemos”, começa por explicar o padre Patrício Oliveira.
 Com transmissões ao fim- -de-semana e numa ou outra ocasião mais especial durante a semana, a Paróquia da Marinha Grande tem conseguido conquistar um “feedback mui­to positivo”.
“É curioso, porque acabamos por ter um retorno e um diálogo pós-missa muito mais interessante do que quando é na missa presencial. Geralmente, quando as missas terminam, conversamos com duas ou três pessoas. Nós terminamos um directo e temos 130 comentários”, destaca o pároco, acrescentando ter já conversado com pessoas que criaram um perfil no Facebook especialmente para acompanhar as celebrações.
“Estas pessoas sabiam que nós o estávamos a fazer e, com a ajuda de familiares, acabaram por marcar presença no Facebook para nos acompanharem. É recompensador”, sublinha o padre Patrício Oliveira.
Mas como é celebrar uma eucaristia perante uma câmara, num espaço vazio, onde o factor humano é a maior ausência?
“É estranhíssimo. Estamos muito habituados a uma interacção humana, que neste caso não existe. Cá em casa vivemos três pessoas, que são as que aparecem nos directos. Nós vamos respondendo durante as missas, mas ainda assim é muito estranho”, afirma o pároco da Marinha Grande, exemplificando: “Pessoalmente, costumo ter uma abordagem mais bem-disposta durante as celebrações, algo que também depende da reacção que estou a receber. Quando fazemos uma homilia e falamos para as pessoas, vamos adaptando aquilo que dizemos de acordo com as caras ou as reacções das pessoas. Neste caso, estar a dizer uma brincadeira e ninguém se rir, é muito estranho”.
Na mesma linha de pensamento, o padre Gianfranco Bianco, da Paróquia da Benedita, refere que “estar a celebrar a missa sem a presença de fiéis é muito difícil”.
“Para quem está habituado a ter uma assembleia composta, como acontece na Benedita, é estranho de repente estar tudo vazio. É verdade que as pessoas estão atrás da câmara, mas o facto de não haver uma comunicação de olhares, de não vermos a expressão das pessoas, de não ouvirmos as suas respostas, é um vazio muito grande. Não é a mesma coisa”, defende o pároco da Benedita, no concelho de Alcobaça.
Transmitidas a partir da Capela do Centro Comunitário durante a semana, e ao fim-de-semana da própria Igreja Paroquial, as transmissões chegam a atingir centenas de pessoas, oriundas de vários pontos do Mundo.
“Desde o Brasil, África ou Noruega, temos recebido comentários de vários emigrantes”, refere o padre, adiantando que tem registado uma “grande participação” por parte dos fiéis. “É muito curioso verificar que as pessoas, à medida que a missa decorre, vão respondendo por escrito, quer seja men’ ou ‘Graças a Deus’. Tem havido uma participação engraçada nesse sentido”, salienta o pároco.
Ainda assim, tanto Gianfranco Bianco como Patrício Oliveira reconhecem que esta solução não permite atingir todas as camadas da população. “As pessoas mais velhas acabam por nos telefonar para conversarem um bocadinho. O telefone é outro meio que temos para nos mantermos próximos da comunidade”, explica Gianfranco Bianco, garantindo que a população mais envelhecida continua a ser acompanhada pelos membros da Paróquia, à semelhança do que acontece na Marinha Grande.

“Os funerais têm-se tornado mais dolorosos”
Unânime entre os dois párocos é a opinião de que, face às restrições existentes no que toca à celebração dos funerais, estes têm-se tornado “particularmente mais dolorosos”.
“Esta situação dificulta bastante o luto das famílias. As casas mortuárias fecharam e não há possibilidade de haver um velório. Aquele conforto que a família enlutada recebe durante os velórios e os funerais, por parte de amigos e conhecidos, agora não existe”, refere o padre Patrício Oliveira.
Da mesma forma, Gianfranco Bianco afirma que o momento é “muito difícil” para os próprios sacerdotes. “Para nós, que temos de fazer uma celebração pequena e não podemos estar fisicamente perto das pessoas e reconfortá-las, é muito difícil”, conclui o padre. 


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