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Covid-19: “É complicadíssimo estar em tele-trabalho e tomar conta dos filhos”


Legenda: Quarentena está a ‘obrigar’ os pais a gerir, simultaneamente, o trabalho e a família (Cristiana Alves/texto/DR/foto) Segunda, 06 de Abril de 2020

Qual o impacto que a quarentena pode ter nas crianças? Que consequências terá no estado emocional dos adultos? Como é estar em regime de tele-trabalho e, simultaneamente, ter de tomar conta dos filhos? Estas foram algumas das questões lançadas ao psicólogo Ricardo Cardoso que, ao nosso jornal, defendeu: “É complicadíssimo estar em tele-trabalho e tomar conta dos filhos”.
Para o leiriense, da mesma forma que “não se pode pedir a uma educadora que seja educadora e administrativa”, também não se pode pedir aos pais que “desempenhem um bom tele-trabalho e, ao mesmo tempo, que sejam bons educadores”.
“Neste caso, torna-se ainda mais complicado porque não há a liberdade que os educadores e os professores têm de ter tempos de intervalo onde as crianças vão brincar e quebram a rotina”, refere o psicólogo, acrescentando que os pais encontram-se em “duas situações muito complicadas”.
“Primeiramente, há a pressão de trabalhar em tele-trabalho, que é tão intenso como o trabalho ‘normal’. Em segundo lugar, estar 24 horas com uma criança não é fácil”, afirma Ricardo Cardoso.
Segundo o profissional de saúde, em termos emocionais, a quarentena poderá contribuir para um “maior stress” na criança e um “aumento da ansiedade”, que a longo prazo se pode traduzir num “medo da doença”.
“Ao fim e ao cabo, é como se estivéssemos a viver uma situação de guerra. As crianças estão limitadas ao seu espaço e a um confinamento em casa e isso pode criar, no futuro, uma implicação na gestão do medo. É a tal questão do stress pós- -traumático e das reacções que poderão ter perante outras situações, como uma simples constipação”, explica Ricardo Cardoso.

Ter uma rotina e horários
definidos é “muito
importante”
Em quarentena há três semanas, são muitas as crianças que, por estes dias, estão já a demonstrar sinais de “impaciência” e “grande agitação”.
Neste contexto, Ricardo Cardoso defende que, em primeiro lugar, é necessário ter uma rotina bem definida. “Isto é algo muito importante não só para as crianças, mas também para os próprios adultos. Ter uma rotina e horários específicos para acordar, almoçar, jantar, trabalhar e ter momentos de lazer é importante. Nas crianças, é também relevante elas terem tarefas de responsabilidade individual, nem que seja riscar uma folha, no caso dos mais pequenos”, aponta o psicólogo.
Além disso, o profissional destaca também a necessidade de praticar técnicas de relaxamento, como o ioga ou o simples acto de inspirar e expirar. “É necessário haver, de alguma forma, o controlo do corpo. É muito importante relaxar o próprio corpo”, sublinha o psicólogo, que não esquece a necessidade de levar os mais pequenos a “gastar o máximo de energia”.
“Quem tem espaço exterior, é bom que faça com que as crianças possam gastar o máximo de energia possível. Quem não tem, aconselho a comprar uma corda para as crianças saltarem bastante, nem que seja na varanda ou no passeio perto da habitação”, aponta o psicólogo Ricardo Cardoso.
Solidão é um dos factores que “mais mata” em Portugal
A solidão é “uma das coisas que mais mata em Portugal” e, por estes dias, são muitos os seniores que estão sozinhos em casa, a cumprir a quarentena. Algo que preocupa Ricardo Cardoso. “Apesar de achar que as pessoas mais velhas têm de ficar em casa, tenho a certeza absoluta que isto vai ter consequências, em alguns casos tão graves como a Covid-19. Estar só também nos mata”, aponta o profissional, que aconselha a população mais velha a “usar as tecnologias” e a “abrirem as janelas para falarem com os vizinhos”.
“Tenho a certeza que, sendo a ansiedade e a depressão o grande flagelo deste século, esta situação que vivemos hoje vai contribuir para aumentar ainda mais. E na população sénior que temos, a depressão vai ter níveis maiores”, reconhece o psicólogo. 


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