Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
Fundador: 
Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: 
Adriano Callé Lucas

Docente defende tratado político internacional para prevenir riscos biológicos


Sexta, 03 de Abril de 2020

Após o nosso jornal ter tido conhecimento de um artigo científico publicado na revista ‘Nature’, de Dezembro de 2015, que refere que os animais vendidos em mercados tradicionais chineses, sem qualquer controlo sanitário, conferem um risco muito grande, uma vez que contém vírus susceptíveis de “serem transmitidos aos humanos, causando doenças do foro respiratório, extremamente difíceis de controlar”, contactou o especialista em Engenharia Química, Clemente Pedro Nunes.
O professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, esclareceu o “enquadramento e importância estratégica” do conteúdo do referido estudo científico, que inclui como co-autores, os professores Xing-Yi Ge, Zhengli-Li Shi, ambos do Departamento de Virologia da Universidade Tecnológica de Wuhan (China).
“Este estudo é um dos mais relevantes, efectuados depois da primeira epidemia de SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave] ocorrido em 2003, e que, já nessa altura, tinha evidenciado o grave risco que a utilização de animais selvagens na alimentação humana na China, coloca à saúde”, refere o especialista.
Face às conclusões deste estudo - que sublinham os perigos para os humanos dos vírus que estes animais hospedam – e que é qualificado de “grande qualidade científica”, Clemente Pedro Nunes diz não compreender “como é que isto não levou de imediato ao encerramento compulsivo” daquele tipo de mercados na China.
O especialista defende, por isso, um tratado de prevenção de riscos biológicos e justifica: “a gravidade da actual pandemia torna-o urgente e indispensável para salvar a globalização”. A título de exemplo, Clemente Pedro Nunes aponta para o sucesso do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares - celebrado na década de 60 do século passado, entre o Ocidente e a então União Soviética -, para insistir na subscrição de um novo acordo mundial, desta feita direccionado para “os ricos de agentes biológicos na Saúde”.

Impacto geoestratégico
Com a pandemia generalizada em todo o Mundo, e especialmente na Europa, com resultados socioeconómicos extremamente graves, Clemente Pedro Nunes aponta também para as consequências geoestratégicos advenientes da COVD-19.
O docente universitário recorda que “o princípio da reentrada da China nos mercados internacionais, promovido por Deng Xiao Ping, a partir de 1979”, com um “sistema político controlado pelo Partido Comunista Chinês e um económico de mercado capitalista”, pressupunha “vantagens económicas e sociais para todos os intervenientes, quer na China, quer nos restantes países da Comunidade Internacional”. “Foi este princípio que levou ao acordo para a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001”, lembra.
Ora, a correlação de forças entre a China e a comunidade internacional “sofreu um enorme abalo, tendo em conta a disseminação deste vírus”. Por isso deixa o repto para que sejam tomadas “medidas globais no controlo eficaz e atempado de riscos biológicos, derivados de actuações de grave negligências como aquelas que a China tem exibido, pelo menos desde 2003 [epidemia do SARS]”.


Suplementos


Edição de Hoje, Jornal, Jornais, Notícia, Diário de Coimbra, Diário de Aveiro, Diário de Leiria, Diário de Viseu