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Oito dias depois escolas prosseguem adaptação que “não tem sido nada fácil”


Segunda, 23 de Março de 2020

Com o Covid-19, tudo está a mudar. Umas coisas lentamente, outras, como é caso dos ensinos básico e secundário, de forma abrupta, com alteração de todo um sistema assente em antigas práticas. Completam-se hoje oito dias do encerramento das escolas, com uma adaptação que, dizem professores, «não está a ser fácil», e começa, também hoje, a última semana do segundo período de aulas. Depois virão as notas e depois a incógnita do terceiro período, provavelmente ainda mais online.
Para perceber como se está a proceder a mudança nas escolas, fisicamente encerradas para os alunos a 16 de Março, o Diário de Coimbra ouviu quatro professores, três dos quais directores, ficando a percepção do grande empenho docente mas com algumas dificuldades. Naturais, de resto. Mas também se percebe uma ideia de força e de fé na superação do momento.
«Está a ser muito difícil», deixou escapar António Couceiro. Mas, diria logo a seguir, «os miúdos estão a reagir impecavelmente». Tal como os pais. O director do Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro, com ensinos básico e secundário, nota que nem toda a classe docente domina de igual forma as tecnologias de comunicação agora essenciais. Entre os cerca de 180 docentes, as dificuldades de comunicação informática com os 1.700 alunos (920 dos quais dos três anos do secundário), residem nos «mais antigos», resumindo-se ao email.
Outros, contudo, já usavam plataforma de comunicação. Na Eugénio de Castro a opção passou por dar liberdade de acção aos directores de turma na escolha da plataforma de comunicação. Também é certo que neste final de segundo período a matéria já não inclui muitos conteúdos novos, observa. Seja como for está a haver «todo um ajustamento» à nova realidade e «curiosamente os estudantes estão a reagir muito bem», elogia o também professor de biologia.
Uma dos eventuais problemas será o de acesso equitatito à informação pedagógica, porque nem todos os alunos terão internet “à mão”. É uma questão que terá de ser equacionada, defende António Couceiro, tal como outras. O terceiro período ainda é «uma incógnita», assinala. Provavelmente poderá passar por aulas virtuais e comunicações via skype, vaticina, sem acreditar num regresso à normalidade no terceiro período.
 
Ensino à distância
é forte possibilidade
«Tudo aconteceu de um momento para o outro», contextualiza Cristina Ferrão, directora da Escola Secundária Dona Maria, ao expressar as dificuldades naturais de mudança de práticas. Com a preocupação que nenhum dos 900 alunos (dos ensinos básico e secundário) fique prejudicado, a formação tem sido apenas de «consolidação de conteúdos». A aprendizagem equaciona todas as ferramentas, nomeadamente plataformas disponibilizadas por editoras, mas o grande recurso tem sido o email.
Tal como na escola Eugénio de Castro, a presença na Dona Maria de funcionários e docentes é reduzida, com as reuniões entre professores e direcção a decorrerem em plataformas digitais. «Vivemos tempos novos, numa mudança nada confortável que exige mais destreza», salienta a docente, notando a importância de se manterem os alunos activos. A informação que a escola tem passado aos pais é que, férias, só na Páscoa.
Ou seja, começam no final desta semana e duram até 13 de Abril, altura prevista para o “pico” da pandemia em Portugal, o que levanta várias questões.
Na Escola Dona Maria estará em cima de mesa, em reuniões da classe docente, a possibilidade de ensino à distância, com recurso a plataformas digitais. «É um grande desafio, que irá exigir flexibilidade e autonomia», nota Cristina Ferrão. Será, na sua perspectiva, uma oportunidade de concretização do decreto-lei 55 (estabelece o currículo dos ensinos básico e secundário e os princípios orientadores da avaliação das aprendizagens), e certamente de se contribuir para a formação «de melhores cidadãos».
 
Vontade e empenho
da classe docente
 Na Secundária José Falcão, os alunos estavam já, antes do encerramento obrigatório, familiarizados com a plataforma moodle, que lhes permite o acesso a fichas ou material pedagógico. O que está a ser feito, também por email, é uma «consolidação da matéria dada» e continuidade de trabalhos iniciados, adianta Isabel Amoroso.
A vice-directora da escola (estabelecimento com ensino básico e secundário e mais de mil alunos) realça a preocupação num acesso pelos alunos em «pé de igualdade» e regista «a grande vontade dos professores em se adaptarem à nova situação». Aos docentes foi solicitado bom senso no envio de trabalhos e o não avanço nas matérias, o que foi bem acolhido, com resultados muito positivos. A responsável sublinha ainda a excelência da classe docente, que tem «trabalhado muito», todos e em particular os directores de turma.|


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