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Produtores locais apostam na entrega ao domicílio para ‘fazer frente’ ao Covid-19


texto: Cristiana Alves / foto: DR / Legenda: Produtores da Ortigosa investiram recentemente na plantação de novos produtos e estão receosos com o impacto do vírus Sexta, 20 de Março de 2020

Um pouco por todo o distrito, o fim-de-semana é sinónimo de feiras e mercados repletos de bancas, carrinhas e produtores locais a comercializarem o que de melhor se produz na região. A partir de agora, e por tempo indeterminado, o cenário será bastante diferente do habitual e os locais que semanalmente acolhem os mercados dão agora lugar a espaços vazios e sem movimento.
Numa altura em que o País e o mundo enfrentam uma pandemia com consequências devastadoras na saúde e na economia, como estarão os produtores locais a adaptar-se?
Da Ortigosa, no concelho de Leiria, chega-nos o caso de Marina Carneiro e dos pais, um exemplo de como tempos difíceis exigem decisões imprevisíveis e nunca antes planeadas.
Vendedores nos mercados de Porto de Mós, Louriçal, São Mamede, Guia, Monte Redondo, Peniche, entre tantos outros, os pais de Marina Carneiro viram-se sem forma de vender os seus produtos, que começaram a acumular.
Foi perante este cenário em que crescia a necessidade de escoar os produtos que surgiu a ideia de criar um serviço de entrega ao domicílio, que ao longo dos últimos dias tem registado uma “enorme adesão”.
“Os meus pais são produtores de batata doce, morangos e cebolas e vendem igualmente verduras e frutas de outros produtores portugueses. Com o encerramento dos mercados, nasceu um sentimento de insegurança e medo porque os meus pais não têm possibilidade de ficar em casa sem rendimentos”, começa por explicar Marina Carneiro.
Foi então que, por estar de quarentena em casa, a jovem teve a ideia de auxiliar os pais na venda dos produtos através de encomendas. “Como vi que a situação deles não estava fácil e estou em casa parada, apenas a tomar conta da minha filha, lembrei-me de fazer publicações na rede social Facebook a dar conta do serviço de entrega ao domicílio”, conta Marina Carneiro, que confessa não ter esperado uma “adesão tão grande”.
“Há alturas em que não consigo responder a toda a gente. Foi uma adesão brutal, com encomendas de vários pontos do distrito”, afirma.
Mas como se processa então este serviço? “Eu vou registando as encomendas e estando em contacto com os clientes, os meus pais e o meu irmão tratam de levar os produtos a casa das pessoas. Tudo isto sem entrar nas habitações e cumprindo as normas de segurança, até porque os meus pais pertencem ao grupo de risco e temos de ter o máximo de cuidado”, refere.
Face ao sucesso deste serviço de entrega ao domicílio, os produtores oriundos do lugar da Ortigosa têm também auxiliado outros vendedores locais. “Os meus pais conhecem muitos vendedores que também têm produtos acumulados em casa, mas que infelizmente não têm capacidade para fazer este tipo de entregas. E então chegaram a acordo com alguns deles para comercializarem e entregarem também os seus produtos”, conta a jovem, adiantando que poderá estar a nascer um “novo modelo de negócio”.
“A nossa prioridade agora é escoar os produtos e arranjar forma de os meus pais conseguirem pagar as contas mensalmente, até tudo isto terminar. Se no futuro virmos que é um serviço sustentável, quem sabe se não poderemos continuar a fazê-lo”, conclui. 


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