Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
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Médicos defendem quarentena imediata


Segunda, 16 de Março de 2020

Cerca de 2.700 médicos, dos cuidados de saúde primários, cuidados de saúde secundários, de diferentes especialidades e de vários pontos do país, subscreveram já um abaixo-
-assinado a propósito do combate à pandemia do novo coronavírus, em que apelam para a «protecção adequada dos profissionais de saúde» e dos utentes, bem como defendem a «racionalização de meios e a implementação assertiva de medidas de contenção de âmbito comunitário».
«Só assim será possível fazer frente a este desafio», sublinham os médicos, que no documento reafirmam o «compromisso com a defesa das populações e do Serviço Nacional de Saúde, garantindo a disponibilidade de prestar cuidados de excelência, desde que garantidas as condições de segurança e higiene definidas pela Direcção-Geral de Saúde».
Uma das subscritoras do “Manifesto dos Médicos – Covid-19” explicou ao nosso jornal que esta tomada de posição foi motivada pelas dificuldades com que os clínicos se deparam neste momento particularmen­te difícil, detectando insuficiências nomeadamente na ligação entre as administrações regionais de saúde e as unidades prestadoras de cuidados. «Não estamos a sentir o apoio de que precisamos para melhor cuidar dos nossos doentes. Não há uma linha condutora. Cada um vai fazendo as coisas à sua medida e não temos indicações claras de como enfrentar isto. Tenho a certeza de que nem todas as unidades de saúde estão a proceder da mes­ma maneira», afirmou a médica de família, da região Centro, que pediu para não ser identificada.

Inúmeras dificuldades
no meio hospitalar
No manifesto, que foi ganhando força nas redes sociais e através de contactos por email, os subscritores começam por constatar que «a saúde em Portugal e no mundo enfrenta um novo e importante desafio» e enumeram «um conjunto de propostas práticas e viáveis» para «solucionar problemas reais e com consequências potencialmente catastróficas, não só para o sistema que representamos, mas também para todos profissionais de saúde e para a população em geral».
«No meio hospitalar são inúmeras as dificuldades no cam­po, tanto as que já existiam anteriormente pela degradação progressiva do SNS e que se exacerbam agora perante as novas exigências desta pandemia, como as novas dificuldades que a mesma coloca», avisam.
O extenso documento dedica um capítulo às medidas a tomar pela comunidade, em que alerta que a população portuguesa «não está correctamente informada relativamente às medidas que têm que ser tomadas em conjunto para controlar esta pandemia». «Consideramos fundamental apostar em campanhas de esclarecimento na televisão e nas redes sociais de fontes oficiais de modo a garantir informação de qualidade. É preciso ganhar a guerra da informação vs. o me­do, o pânico, a indiferença e a desinformação. Se por um lado há pessoas alarmadas, par­te importante da opinião pública ainda considera este assunto banal e exacerbado pelos media, ignorando as devidas recomendações», afirmam. O manifesto dos médicos defende que as autoridades portuguesas devem «definir uma quarentena obrigatória de 14 dias urgente e para todos, tal como já previamente realizado em vários países europeus com excelentes resultados e inclusivamente na China, conseguindo inverter a curva para uma fase descendente do sur­to», e salienta «o exemplo de Macau, que teve um admirável êxito em rapidamente controlar e extinguir os casos» neste território.
Outra das medidas preconizadas pelos subscritores é o encerramento temporário das fronteiras de Portugal. «Apesar de compreendermos que é uma medida difícil de se implementar devido ao impacto económico e social, consideramos uma medida essencial uma vez que seremos impotentes em travar esta epidemia se continuar a aumentar os casos importados, sobretudo quando em Espanha o cenário se agrava a largos passos», referem.
A aplicação, «imediata e com carácter obrigatório», destas e de outras medidas apontadas «será determinante para controlar a propagação do vírus e evitar cenários catastróficos por falência dos cuidados de saú­de», concluem os médicos


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