Cerca de 2.700 médicos, dos cuidados de saúde primários, cuidados de saúde secundários, de diferentes especialidades e de vários pontos do país, subscreveram já um abaixo-
-assinado a propósito do combate à pandemia do novo coronavírus, em que apelam para a «protecção adequada dos profissionais de saúde» e dos utentes, bem como defendem a «racionalização de meios e a implementação assertiva de medidas de contenção de âmbito comunitário».
«Só assim será possível fazer frente a este desafio», sublinham os médicos, que no documento reafirmam o «compromisso com a defesa das populações e do Serviço Nacional de Saúde, garantindo a disponibilidade de prestar cuidados de excelência, desde que garantidas as condições de segurança e higiene definidas pela Direcção-Geral de Saúde».
Uma das subscritoras do “Manifesto dos Médicos – Covid-19” explicou ao nosso jornal que esta tomada de posição foi motivada pelas dificuldades com que os clínicos se deparam neste momento particularmente difícil, detectando insuficiências nomeadamente na ligação entre as administrações regionais de saúde e as unidades prestadoras de cuidados. «Não estamos a sentir o apoio de que precisamos para melhor cuidar dos nossos doentes. Não há uma linha condutora. Cada um vai fazendo as coisas à sua medida e não temos indicações claras de como enfrentar isto. Tenho a certeza de que nem todas as unidades de saúde estão a proceder da mesma maneira», afirmou a médica de família, da região Centro, que pediu para não ser identificada.
Inúmeras dificuldades
no meio hospitalar
No manifesto, que foi ganhando força nas redes sociais e através de contactos por email, os subscritores começam por constatar que «a saúde em Portugal e no mundo enfrenta um novo e importante desafio» e enumeram «um conjunto de propostas práticas e viáveis» para «solucionar problemas reais e com consequências potencialmente catastróficas, não só para o sistema que representamos, mas também para todos profissionais de saúde e para a população em geral».
«No meio hospitalar são inúmeras as dificuldades no campo, tanto as que já existiam anteriormente pela degradação progressiva do SNS e que se exacerbam agora perante as novas exigências desta pandemia, como as novas dificuldades que a mesma coloca», avisam.
O extenso documento dedica um capítulo às medidas a tomar pela comunidade, em que alerta que a população portuguesa «não está correctamente informada relativamente às medidas que têm que ser tomadas em conjunto para controlar esta pandemia». «Consideramos fundamental apostar em campanhas de esclarecimento na televisão e nas redes sociais de fontes oficiais de modo a garantir informação de qualidade. É preciso ganhar a guerra da informação vs. o medo, o pânico, a indiferença e a desinformação. Se por um lado há pessoas alarmadas, parte importante da opinião pública ainda considera este assunto banal e exacerbado pelos media, ignorando as devidas recomendações», afirmam. O manifesto dos médicos defende que as autoridades portuguesas devem «definir uma quarentena obrigatória de 14 dias urgente e para todos, tal como já previamente realizado em vários países europeus com excelentes resultados e inclusivamente na China, conseguindo inverter a curva para uma fase descendente do surto», e salienta «o exemplo de Macau, que teve um admirável êxito em rapidamente controlar e extinguir os casos» neste território.
Outra das medidas preconizadas pelos subscritores é o encerramento temporário das fronteiras de Portugal. «Apesar de compreendermos que é uma medida difícil de se implementar devido ao impacto económico e social, consideramos uma medida essencial uma vez que seremos impotentes em travar esta epidemia se continuar a aumentar os casos importados, sobretudo quando em Espanha o cenário se agrava a largos passos», referem.
A aplicação, «imediata e com carácter obrigatório», destas e de outras medidas apontadas «será determinante para controlar a propagação do vírus e evitar cenários catastróficos por falência dos cuidados de saúde», concluem os médicos