Nasceu Antónia, crê-se que na freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, em Aveiro, e “fez-se” António para fugir aos maus-tratos de uma irmã com quem vivia, em Lisboa. Comprou um fato de marujo, cortou o cabelo e convenceu o mestre de uma caravela a levá-la(o) como ajudante. Em Mazagão, Norte de África, tornou-se soldado, com 13 ou 14 anos, promoveram-no a cavaleiro, pelos feitos como combatente, e aos 15 já lhe chamavam o “Terror dos Mouros”, sem ninguém supor que era mulher. Tal era o assédio feminino que acabou por se revelar, casar e ser mãe.
Diário de Aveiro: Houve intenção deliberada ao lançar-se nesta investigação?
Francisco Messias: O “achamento”, como então se dizia, do assento de baptismo de Antónia Rodrigues ocorreu de forma acidental: estava a iniciar um trabalho de investigação e a fazer uma sondagem aos documentos disponíveis para avaliar a qualidade, validade da informação e sequência cronológica. Ao passar por um determinado fólio saltou-me à vista o nome de Simão Rodrigues, pois dizia-me alguma coisa. A leitura atenta desse pequeno texto permitiu-me concluir que se tratava, efectivamente, do assento de baptismo de Antónia Rodrigues; o nome da mãe, Leonor Dias, coincidia também com o que se dizia ser. Uma rápida revisão de outras fontes e textos permitiu-me confirmar, de forma definitiva, ser este o assento de baptismo de Antónia Rodrigues, oito anos antes da data que era apontada: 1580.