O coordenador do Centro de Respostas Integradas (CRI) de Aveiro diz que o padrão de consumo de substâncias psicoactivas tem mudado ao longo dos anos. Houve o tempo do predomínio da heroína e Portugal chegou a ter um dos maiores índices de prevalência na Europa. O “grande desafio” é hoje o policonsumo, com a cannabis à cabeça. Emídio Abrantes avisa para a perda de capacidade de resposta das entidades públicas e para a necessidade de modernizar a actuação nesta área. “É impossível ignorar que as diversas plataformas de redes sociais são um meio privilegiado de comunicação e de real intervenção”, diz em entrevista ao Diário de Aveiro
Diário de Aveiro: Qual a situação actual na região de Aveiro do problema das toxicodependências? Há números?
Emídio Abrantes: A situação de Aveiro em matéria de consumo de substâncias psicoactivas é muito semelhante à realidade que atravessa todo o país. Tivemos nas décadas de 80 e 90 do século passado e ainda nos primeiros anos deste século um predomínio de consumo de opiáceos, nomeadamente de heroína. Pela dimensão que atingiu, Portugal tinha um dos mais elevados índices de prevalência de consumo de heroína a nível europeu, o que originou graves consequências a vários níveis. Desde logo a nível da saúde pública (aumento da infecção de VIH/SIDA, de hepatites B e C e de tuberculose, mortes por overdose), das famílias (disfuncionalidade familiar), da sociedade (aumento da marginalidade, pobreza e criminalidade) e da economia (aumento do desemprego e dos apoios sociais), além de graves problemas de insegurança pública. Portugal soube tomar medidas adequadas à situação que se vivia, como a descriminalização das drogas, em 2000, e a implementação de uma rede nacional de serviços públicos com intervenção nas adições que assenta numa abordagem integrada com intervenções nas áreas da prevenção, da dissuasão, da redução de riscos e minimização de danos, no tratamento e na reinserção social.