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Desenvolvido método capaz de isolar células promissoras para regeneração do coração


Segunda, 08 de Julho de 2019

Investigadores do Instituto de Investigação em Saúde (i3S), no Porto, desenvolveram um método capaz de isolar as células do coração que podem ser as “candidatas mais promissoras” na regeneração do tecido cardíaco após um enfarte. Em entrevista à agência Lusa, Mariana Valente, investigadora do i3S, explicou hoje que o estudo desenvolvido, recentemente publicado na revista Plos Biology, visava responder a uma questão que ainda hoje “continua a ser pertinente”: a existência de células estaminais ou progenitoras cardíacas.

Foi depois de, em meados do ano 2000, um grupo de investigadores americanos ter “demonstrado a existência de células estaminais no coração adulto de mamíferos”, que, um pouco por todo o mundo, laboratórios e equipas de investigação começaram a tentar reproduzir o resultado e “encontrar as células progenitoras”. “Em 2011 estavam descritas pelo menos cinco populações de células progenitoras no coração adulto diferentes”, recordou Mariana Valente, a primeira autora do estudo, afirmando, contudo que “algo que não estava correto”. “A questão [colocada] foi: como é que é possível não haver regeneração e estarem identificadas tantas populações diferentes de células progenitoras no coração?”, disse, acabando por fazer o mesmo em 2011, ano em que iniciou esta investigação no âmbito do seu doutoramento.

Com o objectivo de “desenvolver um mapa de todas as células que constituem o coração”, a equipa de investigadores que incluiu elementos do Instituto Pasteur, em Paris, decidiu, por isso, “olhar para o embrião”, ou seja, para o momento em que o coração começa a ser formado e todas as células progenitoras necessárias para a formação do coração estão presentes.

Depois de definidas todas as células, a equipa começou por “descartar” as células maduras [células completamente formadas e com uma função já estabelecida] e ficou com “um número restrito de marcadores proteicos” - a proteína CD24/HSA - que apenas existe no início do desenvolvimento do coração e está presente nos cardiomiócitos (célula que ao contrair proporciona o batimento ao coração) mais imaturos. “Olhando para o embrião conseguimos perceber qual a forma de identificar um cardiomiócito imaturo, uma vez que eles expressam a proteína CD24”, disse Mariana Valente, adiantando que “esta foi a primeira vez que estas células foram isoladas”.

Segundo Mariana Valente, sendo que “o maior objectivo de investigação” na área das doenças cardiovasculares continua a ser “o desenvolvimento de novos cardiomiócitos”, a investigação agora publicada vem “auxiliar” a comunidade científica nesse propósito. “Quando há um enfarte do miocárdio, os cardiomiócitos são as células perdidas de forma irreversível (…). Quando o coração perde parte dos cardiomiócitos, não vai bater de forma regular e as pessoas poderão desenvolver arritmias, insuficiência cardíaca e o coração pode parar”, apontou.

À Lusa, a investigadora explicou que o estudo agora divulgado, ao “isolar todas as células que constituem o coração”, permite que as investigações futuras sejam “mais eficazes”. “Neste momento temos um método de isolamento de cardiomiócitos imaturos que nos irá permitir perceber de que forma é que podemos estimular estas células imaturas, que são muito poucas e raras, a desenvolverem novos cardiomiócitos após uma lesão do coração”, concluiu.


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