Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
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“Os deputados, se quiserem ser reeleitos, trabalharão mais e melhor”


Quarta, 23 de Janeiro de 2019

Como explica a crescente descrença dos cidadãos no sistema político português?

Porque depois do 25 de Abril, pouco a pouco, os partidos assumiram todo o poder político, o controlo do Estado e das instituições da sociedade. Além disso,  aproveitaram a oportu­ni­dade de serem as direcções partidárias a escolher os can­di­datos a deputados para iniciarem o controlo da Assembleia da República e governa­menta­lizar o regime, que hoje é um regime de Primeiro-Ministro. Durante este processo, os partidos políticos foram expur­gando dos lugares chave todos aqueles com ideias e propostas diferentes da hierar­quia partidária no poder, passaram a limitar a participa­ção política dos militantes e dos cidadãos em geral e a privi­legiar no acesso ao poder pessoas por razões de fidelidade e não por mérito. Também, pouco a pouco, os portugueses de melhor qualida­de e mérito deixaram de partici­par politicamente, seja porque o ambiente político se lhes tornou hostil, seja porque não precisam da política para viver. Por fim, a actividade política ficou principalmente reservada aos videirinhos, aos arranjado­res de empregos de amigos e familiares, quando não a gente pouco séria.  Trata-se de um lon­go processo de usurpação do poder democrático. Como é evidente, este modelo não democrático, em que os portu­gueses vêem limitadas as oportunidades de participação política nas decisões e verificam, pela experiência já vivida, a má qualidade dessas decisões, resignam-se à descrença e à abstenção eleitoral.

 

Este é um problema dos políticos que têm sido eleitos ou do sistema criado no pós-25 de Abril?

Trata-se de ambas as coisas. O sistema não democrático da escolha dos deputados, em quem os portugueses votam em listas fechadas e sem a possibilidade de escolher o seu representante, ou de lhe recusar o voto, conduziram à selecção  dos menos qualificados e dos mais disponíveis para seguir acriticamente as instruções que lhes são dadas pelos chefes. Trata-se de um processo que, não tendo as virtualidades da democracia, mata a independência, a crítica livre e as ideias para um Portugal mais moder­no e mais livre. Por exemplo, o Governo do PS acaba de levar à aprovação da Assembleia da República um plano de obras públicas que não é apenas erra­do, como seria fácil de demons­trar, mas é também um serviço a alguns interesses monopolis­tas, exemplo MEDWAY, que mantêm a economia portugue­sa amarrada a conceitos velhos e fora do tempo. Investir na ferrovia em bitola ibérica com o objectivo confessado de evitar a concorrência internacional, enriquecerá alguns, mas à custa do interesse geral e do progres­so da economia. Por outro lado, a dificuldade de os críticos e os técnicos mais qualificados, nos diferentes tipos de investimento, terem condições de fazer ouvir as suas opiniões, permite aos governos decidirem sem oposição, mesmo quan­do são óbvias as motivações e os interesses particulares que lhes estão na origem.

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