Jornal defensor da valorização de Aveiro e da Região das Beiras
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Adriano Callé Lucas

Notícia positiva ganha Prémio de Jornalismo Adriano Lucas


Sábado, 07 de Julho de 2018
O Prémio de Jornalismo Adriano Lucas levou, ontem, o Diário de Coimbra à Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), instituição que “deu” a Liliana Carona as personagens e o motivo da reportagem vencedora. E levou também os presentes na entrega do prémio à reflexão, à necessidade de um outro olhar para a deficiência. A começar pela comunicação social, como observou o jornalista Jorge Castilho, membro convidado de todas as edições, ao notar que “a deficiência é uma área com que a sociedade sempre teve dificuldade em lidar”. E a comunicação social, assumiu quem está no jornalismo há 50 anos, “não está imune a essa impreparação para tratar dos temas que fogem às normas convencionadas”. O trabalho vencedor da 7.ª edição do prémio que presta homenagem ao director in memoriam do Diário de Coimbra, e que também foi fundador do Diário de Aveiro, dá a conhecer vencedores do festival europeu da canção para pessoas com deficiência, muito antes de Salvador Sobral vingar no Festival Eurovisão de 2017. Em “Antes do Salvador”, Liliana Carona procurou, por lhe parecer “importante”, dizer às pessoas que, em 2005, Márcio Reis e Rita Joana foram vencedores com o tema “Maior que o Mundo”. E que em 2014, na Suécia, a vitória voltou a sorrir à APCC, com Paulo Jesus, Pedro Falcão, Paulo Casal e, novamente, Márcio Reis, com a música “Mundo de Contradições”. Ao falar em nome do júri, que decidiu por unanimidade, mas também com invocação da experiência pessoal, Jorge Castilho sublinhou a sensibilidade e competência da autora, mestre em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). “Isso mesmo decorre do tema que escolheu para a reportagem e da forma como a redigiu”, explicou o também antigo director-adjunto do Diário de Coimbra, que é há mais de uma década presidente da Assembleia-Geral da APPACDM de Coimbra, instituição que apoia mais de um milhar de cidadãos deficientes. “Conheço, por isso, bem de perto, as dificuldades que estas instituições enfrentam, mas também a extraordinária dedicação de quantos nelas trabalham e o papel relevantíssimo que assumem na sociedade – e que a sociedade raramente reconhece”, disse. Na reportagem, ontem publicada naquele jornal, a autora “aproveitou a onda de popularidade gerada pela vitória de Salvador Sobral (…) para fazer o contraponto com outra realidade bem diversa. Mas fê-lo com elegância, sem cair no populismo fácil, antes de forma deontologicamente irrepreensível e com a preocupação de divulgar os feitos meritórios de quem, antes de Salvador Sobral, também conquistou prémios em festivais europeus da canção”, elogiou Jorge Castilho, ao assinalar a “subtileza” com que, “sem atacar ninguém, divulgou e enalteceu os feitos notáveis de cidadãos portugueses que brilharam além-fronteiras, representando instituições exemplares, mas que o seu país quase ignorou”. “A crítica ao silêncio está implícita, o elogio do mérito surge bem explicitado”, disse. “É este jornalismo positivo que tanta falta hoje faz num universo mediático dominado pelo facilitismo, pelo ‘quanto pior melhor’”, disse ainda, preconizando “um jornalismo consciente da sua responsabilidade social, não acomodado e sem receio de ser incómodo. Que alerte para as realidades circundantes, que denuncie o que está mal e elogie e dê a conhecer o que o merece. Que estimule a solidariedade e contribua para a justiça social”. Licenciada e mestre em Jornalismo pela FLUC, Liliana Carona, de 34 anos, que anseia doutorar-se na área, falou da importância do reconhecimento, no que representa o prémio para quem é das poucas pessoas do seu curso que tem estabilidade profissional (directora do jornal Notícias de Gouveia e correspondente da Rádio Renascença na Região Interior Centro). É um estímulo, um impulso, até mesmo a parte monetária, que pode permitir a realização de um curso, considerou, ao clarificar que o objectivo da reportagem foi mesmo o de divulgação de uma realidade muitas vezes esquecida. “A paralisia cerebral não vai desaparecer” “Quem sabia que havia um festival europeu da canção para a pessoa deficiente”, questionou, dirigindo-se aos presentes na cerimónia de entrega do primeiro lugar e de menções honrosas a Henrique Ferreira (“Coimbra, a outra face do conhecimento”, trabalho sobre a integração de licenciados) e a Inês Duarte (“Na memória de alguns ainda arde”, a propósito dos incêndios de 2017). Na verdade, como se deduz das palavras do presidente da APCC, há muita coisa que não se sabe e que faz falta saber para uma verdadeira integração da pessoa com deficiência. Antonino Silvestre, “sensibilizado” e “emocionado” com uma reportagem que o “tocou profundamente”, lembrou que a APCC tem também campeões do mundo no desporto paraolímpico, é pioneira na actividade de boccia e tem uma campeã do mundo em bicicleta. “Quem sabe disto?”, interrogou-se, ao aplaudir uma reportagem que “lança sementes para o futuro”. É preciso, assinalou, que, externamente, mais pessoas valorizem as actividades desenvolvidas nestas instituições, para que se cumpra o caminho da integração de cidadãos de corpo inteiro, defendeu, ao apontar, essencialmente, para o emprego e para a frequência do Ensino Superior de pessoas com deficiência. Essa, precisou, é a segunda parte do caminho que falta percorrer, uma vez que a primeira, que retirou as pessoas com deficiência do isolamento, ou mesmo da vergonha familiar, está cumprida. Na reportagem, Liliana Carona reproduz parte da letra de “Maior que o Mundo”, a tal canção vencedora em 2005. Diz: “E é tão difícil viver num mundo que não olha para mim. Não faz mal porque eu sou bem maior do que ele”. “A paralisia cerebral reduziu porque a natalidade reduziu”, disse Antonino Silvestre. Mas, notou, “não vai desaparecer, dois em cada 1.000 nados vivos pode ter paralisia cerebral”. Coimbra vai acolher festival no próximo ano A vice-reitora da Universidade de Coimbra, Clara Almeida Santos, disse que a reportagem “Antes do Salvador” é inspiradora para três públicos. Para as pessoas retratadas no trabalho, mas também para jornalistas, levando a que saiam da repetição e procurem histórias que interessam. Isso “de que boas notícias não são notícias” não é verdade, acentuou. Finalmente, a peça pode ser também inspiradora para o público em geral, porque cumpre a função do jornalismo de “abrir janelas”, de mostrar coisas que não se veriam de outra forma. Quase se pode dizer que a primeira a ficar inspirada foi a Câmara Municipal de Coimbra. Ao intervir na cerimónia, Carina Gomes anunciou a realização em Coimbra, no próximo ano, do festival europeu da canção para pessoas com deficiência. Não se realizou em 2016 por falta de apoio, mas decorrerá em 2019 no Convento de S. Francisco, garantiu a vereadora da Cultura, que já iniciou conversações com a Associação para Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã, instituição a que compete a organização. Prémio cativa mais e melhores trabalhos Instituído em 2011 pela Câmara Municipal, em parceria com a Universidade e o Diário de Coimbra, o Prémio de Jornalismo Adriano Lucas tem registado uma maior quantidade de trabalhos a concurso, mas também uma qualidade crescente, assinalaram Jorge Castilho, Clara Almeida Santos e o director-adjunto do Diário de Coimbra João Luís Campos. A próxima edição, anunciou ontem a vereadora Carina Gomes, será lançada em breve.
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