O negro da paisagem de há um ano começa, aos poucos, a ganhar cor. O verde toma conta das florestas, as paredes das casas queimadas ganham novos tons. Aos poucos retoma-se uma normalidade, mas nada será como antes do 17 de Junho de 2017. Os corações de quem viveu a tragédia de Pedrógão Grande continuam negros, ainda há quem não consiga dormir, quem continue a necessitar de apoio psicológico. Um ano depois ainda há quem chore. “Todos passámos pelo mesmo”, comenta Marta da Conceição.
À entrada de Nodeirinho, no concelho de Pedrógão Grande, um pequeno monumento da autoria do pintor local João Viola vai ser inaugurado este domingo em homenagem às vítimas, assinalando um ano depois da tragédia que se abateu sobre a região. “Vem cá o Presidente da República”, informa Marta da Conceição, enquanto miga couves que hão-de fazer uma refeição. Aos 85 anos, Marta da Conceição foi uma das que ocupou o tanque que, a 17 de Junho, salvou muitas vidas em Nodeirinho. “Éramos uns 20, não éramos menos dentro do tanque”, recorda sobre o dia que, diz, ainda julga que não existiu. “Palavra de honra, até julgo que foi mentira”, comenta.
No dia que as chamas chegaram com tal violência a Nodeirinho, Marta da Conceição estava em casa e sobreviveu graças ao tanque e à água que permitiu a quem estava refrescar-se e proteger-se do fogo. Outros não tiveram semelhante sorte e no incêndio que ceifou a vida a 66 pessoas, só de Nodeirinho perderam a vida 11. “Avó, filha e neto iam a fugir de carro, o carro virou-se e elas ficaram lá”, recorda Marta Conceição, sem dúvidas que Nodeirinho “nunca mais teve a mesma alegria nem nunca mais terá”.
