Mia Couto chegou pouco depois da hora combinada, momentos antes de dar início a mais uma sessão de autógrafos, na LeYa, em Aveiro, na passada sexta-feira. Sempre pronto para uma boa conversa, afável no trato e de semblante sereno, conduziu-nos a um banco em frente à livraria, onde, sob o olhar atento dos seus admiradores que o esperavam, nos foi contando a sua história. Das indecisões da vida, de cujo percurso garante não guardar ressentimentos e que lhe trouxeram novos caminhos; das poesias escritas às apaixonadas; das histórias e vivência de um Moçambique que lhe corre nas veias; do legado que quer preservar do seu pai; da trilogia histórica que termina em “O Bebedor de Horizontes”… tudo para ler nas próximas linhas.
Assumindo-se como um “autor político”, Mia Couto diz estar preocupado com a actual situação de Moçambique. “A grande batalha em Moçambique continua a ser a construção do outro como um moçambicano, que pode ter ideias diferentes, mas tem que ser escutado”, afirmou.
Mia Couto garante ficar surpreendido pelo carinho que o leitor português tem pelos seus livros. Considera-se “um poeta que conta histórias” e defende que, para si, “a poesia não é só um género literário, é uma maneira de estar vivo, uma maneira de olhar o mundo”. Um mundo que conta sob a forma de verso ou em prosa, mas sempre de olhar poético. Um olhar que tem novas histórias em formação, disse, prenunciando um novo livro.
Diário de Aveiro: Como é que um futuro médico se torna jornalista e depois envereda pela biologia, é professor e pelo meio ainda escreve? Houve alguma indecisão ou é fruto da inspiração?
Mia Couto: É uma mistura. Sobretudo, sou muito bom a tomar indecisões. Houve várias indecisões que deixei correr e a vida foi muito gratificante nesse aspecto, ofereceu-me possibilidades. Quando eu pensava ser médico, fui arrastado para uma outra coisa, mas foi de paixão. Foi um período revolucionário em Moçambique. Eu estava envolvido nesse tempo, nessa mudança. Tudo o que mudou na minha vida não tenho ressentimentos, são coisas que me trouxeram outros caminhos e foram bonitos.
Foi um processo, de criação também do Mia Couto que é hoje.
Sim. Vivi essa vida como se eu estivesse a escrevê-la, como se a estivesse a inventar.
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