Como o tempo passa a voar. Roman e Russlan cresceram (e de que maneira), viraram adolescentes e já não vivem sem o telemóvel por perto, com ligação à internet. Mas mantém a característica de sempre, essa mesma que captou o nosso olhar quando os conhecemos, há precisamente três anos: Roman tem um ar terno e um sorriso que nos conquista de imediato; Russlan é mais vivaço, com um semblante a fugir para o traquina.
Para alguns leitores, Roman e Russlan já dispensam apresentações. Para os mais distraídos, aqui fica a lembrança: são “meninos de Chernobyl”, crianças que vivem em zonas próximas da central nuclear tristemente conhecida pelo acidente de 1986.
Desde 2014 que vêm todos os anos a Portugal passar um mês de férias ao abrigo do projecto “Verão Azul”, que tenta melhorar a saúde de crianças que vivem nas cidades envolventes à área da central de Chernobyl (estima-se que mais de 500 mil pessoas possam continuar a ver a sua saúde afectada nas próximas gerações). Estes dois adolescentes ucranianos (têm 12 e 14 anos, respectivamente) integram o grupo de 38 crianças e jovens que estão abrangidos pelo programa da Liberty Seguros e que os entregou ao cuidado de dezenas de famílias de acolhimento portuguesas.
Só na região de Aveiro, estão cinco crianças e jovens – quatro em Ílhavo e uma em Ovar -, todos eles já repetentes na iniciativa e nas famílias que os acolhem (o programa visa isso mesmo: dar continuidade aos laços criados no ano de estreia). Famílias que lhes dão muito mais do que a oportunidade de ir a banhos de mar ou de piscina – o sol, o ar puro e a praia do nosso país dão-lhes saúde (estas crianças vivem em locais onde a radioatividade subsiste).
Percebemos isso quando perguntamos a Roman e Russlan se querem continuar a vir passar férias em Ílhavo, na casa de Margarida São Marcos, que os acolheu desde o primeiro ano em que vieram a Portugal. Aquele sorriso empolgado, de ambos, diz tudo, bem como a firmeza com que fazem sair da boca um “sim”.
E também percebemos isso quando conhecemos Katerina, de 9 anos, a cumprir este ano as suas segundas férias em Ílhavo. Através da “tradutora de serviço”, Ariana, igualmente de 9 anos – já vamos falar dela mais à frente, lançamos a pergunta: “do que ela mais gosta em Portugal?” Ariana nem precisa de fazer a tradução. Katerina percebeu o sentido da questão e, sem hesitar, responde: “Alice e Pedro”. Exactamente, os nomes dos elementos do casal que abriu as portas da sua casa para a receber.
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