Pé ante pé, pela linha imaginária do Equador, em pouco menos de 40.076 quilómetros dá-se uma volta ao mundo. E se tivermos isto em conta, percebemos que aquela velha Renault Master de um vermelho esbatido pelos anos ao sol, já podia ter dado mais de seis voltas ao planeta. Só que a Biblioteca Itinerante (BI) em forma de carrinha que, em 1993, foi cedida pela Fundação Calouste Gulbenkian à autarquia de Aveiro move-se por outros mundos. Leva em si reinos encantados que fazem sonhar dos mais pequenos aos mais velhos. Lá dentro, no meio de palavras mágicas, além da equipa da Biblioteca Municipal de Aveiro, viaja o calor dos sonhos daqueles que têm a vida toda por viver, mas também de quem vence a cada novo dia que vê nascer. E para estes últimos, um livro é já das poucas coisas que lhes alargam horizontes. E sonhos. Porque sonhar é sempre preciso. Por mais voltas que o mundo dê.
“A Primavera vai e volta sempre/ só a mocidade já não volta mais”. A sala de estar da sede da Associação Melhoramentos de Eixo (AME) está lotada. E poucos são aqueles que não entoam os versos iniciados por Teresa Nogueira, animadora da BI, que mais uma vez visita a instituição para desfiar “A Hora do Conto”. É assim todos os meses, no dia em que as histórias enchem de vida a sala da AME e os cerca de 45 seniores que não perdem uma palavra de Teresa Nogueira.
É o momento “Biblioteca Paraíso” que acontece ali e em várias instituições de todo o concelho. E tal como acontece no clássico italiano de Giuseppe Tornatore que inspirou o nome da iniciativa, aquele também é o momento onde a população se junta para “rir, chorar, dar cotoveladas e protestar” - aqui, em vez da censura de cenas mais “quentes” de beijos, que revoltava os utentes do Cinema Paraíso, reclama-se é com aqueles que são capazes de adormecer num momento de tantas aventuras literárias.
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