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Venezuela, um país com 500% de inflação no abismo


Quarta, 14 de Dezembro de 2016
Inflação de 500%, recessão de 10% e de 5% para 2017, filas intermináveis para depositar as notas de 100 bolívares e acusações de terrorismo financeiro às máfias e aos Estados Unidos são elementos que descrevem a actualidade da Venezuela. O país está mergulhado numa profunda crise económica, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a antecipar uma quebra de 10% na riqueza produzida no país este ano e uma nova recessão de 4,7% no próximo ano. A previsão para a inflação este ano ronda os 500% e a estimativa para o próximo ano, nos 1.660%, mostra um país ingovernável do ponto de vista económico, onde dois terços das pessoas não têm uma conta bancária e que enfrenta uma difícil reposição das notas de 100 bolívares, as mais utilizadas nas transacções comerciais, apesar de valerem apenas alguns cêntimos de dólar. No domingo, o Presidente surpreendeu o país anunciando que nas próximas 72 horas todas as notas de 100 bolívares tinham de ser entregues nos bancos, antes de ser lançado um conjunto de novas notas com valores mais elevados ainda durante a semana. Como na segunda-feira foi um feriado bancário, os cidadãos formaram longas filas às portas dos multibancos, na esperança de conseguir depositar as notas, formando-se filas de pessoas com sacos e mochilas cheias de notas, num cenário que, para além pouco seguro, é descrito pelos participantes que falaram à Bloomberg como de "absoluta loucura" e "caos completo". A Presidência de Maduro, para além de muito contestada internamente, é também vista com maus olhos pelos parceiros regionais, que tentaram tirar a presidência do Mercosul à Venezuela, que para além de todos os problemas económicos e financeiros, enfrentará ainda, a partir de 2017, as consequências do acordo alcançado pelos produtores de petróleo com vista à redução da produção para fomentar a subida do preço. A comunidade portuguesa na Venezuela partilha também as dificuldades da situação económica. "Pensava que nada mais me assombraria mas hoje quis comprar uma garrafa de azeite e perguntei na Central Madeirense (supermercado de portugueses) se tinham e qual o preço, disseram 12.500 bolívares (cerca de 19 euros), fiquei horrorizada", disse Ermelinda da Silva em declarações feitas à Agência Lusa no princípio de Dezembro. Os bens de consumo importados à venda em Caracas, por comerciantes autorizados pelo governo a praticarem "preços internacionais", são inacessíveis a grande parte da população, incluindo os portugueses, por isso uma imagem cada vez mais frequente nos supermercados da capital venezuelana é a de clientes a verificar os preços dos produtos e a deixá-los nas prateleiras, ajustando as compras ao valor disponível na carteira. Com dois sacos quase vazios na mão, Ermelinda da Silva disse que em minutos gastou "o salário quase todo em apenas algumas coisas" e exemplificou: "Nas grandes redes de supermercados os preços estão absurdamente altos. Um quilo de arroz custa 3.600 bolívares (5,45 euros), meio quilo de macarrão custa 3.800 bolívares (5,75 euros)", apontou a portuguesa radicada na Venezuela. Para além da escassez de alimentos que resulta da crise das divisas, que não permite pagar as importações de que a Venezuela depende para a maioria dos produtos de consumo, os portuguesas queixam-se de que nas últimas semanas subiram também o preço dos telefonemas, dos serviços bancários e da electricidade. A actuação do Governo também não tem ajudado, porque é difícil conseguir os produtos que o Governo venezuelano prometeu distribuir através dos Comités Locais de Abastecimento e Produção, porque são precisas muitas horas de fila correndo o risco de que os bens acabem antes que consigam passar a porta do estabelecimento para fazer a compra.

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